A Rússia teve a abertura e o adversário perfeitos
Triunfo por 5-0 sobre a Arábia Saudita pôs fim a uma série de maus resultados do anfitrião do Mundial.
O arranque da 21.ª edição de um Campeonato do Mundo correspondeu às expectativas: a cerimónia inaugural foi sóbria, mas de bom gosto; o jogo entre a Rússia e a Arábia Saudita foi entretido, e confirmou todas as debilidades da selecção asiática. No histórico Estádio Luzhniki, palco dos Jogos Olímpicos de Moscovo de 1980, a anfitriã, mesmo sem fazer uma exibição que consiga camuflar o mau momento que atravessa, goleou os sauditas (5-0) e, pelo menos até ao duelo com o Egipto na próxima terça-feira, sacudiu a pressão. Vladimir Putin e Stanislav Cherchesov podem respirar de alívio.
O capricho do sorteio tinha ditado que a honra de abrir o Mundial 2018 caberia às duas selecções com pior ranking da FIFA no torneio, mas era sobre a Rússia que estava toda a pressão. Sem qualquer vitória em 2018 (três derrotas e um empate) e com apenas um triunfo nos últimos dez jogos, o seleccionador russo, Stanislav Cherchesov, que mesmo após a vitória desta quinta-feira continua a deter a pior percentagem de sucesso (30%) da história da Rússia (seis triunfos em 20 jogos), estava debaixo de mira.
A solução encontrada por Cherchesov para resolver o problema foi socorrer-se de um bloco moscovita. Após várias experiências fracassadas, o técnico colocou no seu primeiro “onze” todos os jogadores convocados do CSKA (cinco) e do Spartak (três). A estes, juntou mais dois do Krasnodar e um do Zenit. Com uma coligação “made in” campeonato russo, o seleccionador pode ter conquistado a confiança dos adeptos e uma equipa.
O sucesso da estreia russa tem, no então, outra variável decisiva na equação. Pela frente, os anfitriões encontraram uma Arábia Saudita com vontade, mas demasiado débil. Tal como Cherchesov, o argentino Juan Antonio Pizzi procurou disfarçar as fraquezas sauditas apoiando-se num clube, mas a aposta do antigo avançado do FC Porto apenas serviu para mostrar a Jorge Jesus que terá muitas dores de cabeça no Al-Hilal. Com um sector defensivo formado quase exclusivamente por jogadores da futura equipa do ex-treinador do Sporting (o central Omar Hawsawi era a excepção), Pizzi apostou num 4x1x4x1 dinâmico, onde os dois extremos tinham um papel decisivo. Porém, Al Shehri (na direita) e Al Dawsari (na esquerda) mostraram por que razão passaram os últimos meses apenas a treinar-se no Leganés e Villarreal, respectivamente.
Apesar da entrada fria dos russos no jogo, rapidamente se percebeu que havia um enorme fosso entre as duas equipas a nível táctico. Ao contrário da Rússia, que atacava pela certa, a Arábia Saúdita subia no terreno com anarquia q.b. Mas foi de bola parada que o Kremlin começou a vencer a batalha. Aos 12’, Zhirkov deu curto para Golovin e o médio do CSKA colocou a bola na cabeça de Gazinskiy, que fez o primeiro golo do Mundial 2018.
A vantagem não chegou para serenar por completo os russos. Afoitos, os sauditas tinham mais posse de bola e a dupla Alfaraj/Aljassam mostrava pormenores interessantes, mas perto do intervalo, quando já se ouviam alguns assobios dos adeptos da casa, a defesa árabe voltou a facilitar: solto na esquerda, Cheryshev, que tinha entrado para o lugar do lesionado Dzagoev, fez um golo de qualidade.
O início da segunda parte chegou a ser entediante. Incapaz de assustar o experiente Akinfeev, a Arábia Saudita mostrava não ter argumentos para materializar a maior percentagem de posse de bola em oportunidades de golo, enquanto a Rússia parecia acomodada à vantagem. Mas o jogo mudou com duas alterações de Cherchesov em seis minutos. Aos 69’, o técnico esgotou as substituições lançando Kuziev e Dzyuba, e o poderoso avançado que esteve na última metade da época passada emprestado pelo Zenit ao Arsenal Tula marcou menos de 60 segundos depois de entrar em campo. Como? Mais uma vez de cabeça, perante a passividade da defesa saudita.
Com o jogo decidido e o público russo rendido, viu-se finalmente bom futebol da Rússia e, já em período de descontos, Cheryshev e Golovin colocam o marcador final num (exagerado) 5-0. Na tribuna presidencial, o presidente da FIFA, Gianni Infantino, virou-se para a esquerda e cumprimentou um radiante Putin. A Rússia teve a abertura perfeita.