Com vista para o mar Cantábrico

A leitora Inês Silva partilha a sua experiência pela região espanhola da Cantábria.

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Reuters

O dia amanhecera chuvoso mas a guia recebia os turistas com entusiasmo. Iam partir em viagem de grupo por alguns dias, a boa disposição era essencial. Do Ribatejo rumo à Cantábria, o percurso avizinhava-se moroso.

Sorri-lhe e sentei-me à janela. Acenei lá para fora e aconcheguei-me, já o autocarro percorria a A23. A paisagem não me era desconhecida, por isso até Vilar Formoso os olhos semicerraram-se várias vezes. Perto de Salamanca, a paragem para almoço foi breve, prosseguindo o itinerário por Tordesilhas/Valladolid, ladeando-se os Picos da Europa, que se vislumbravam ao longe cheios de neve. A chegada à capital cantábrica aconteceu ao final do dia. Aqui pernoitámos no hotel que nos acolheria durante esta estadia.

A visita a Santander, na manhã seguinte, foi o início de cinco dias inesquecíveis. Espraiando-se por uma larga baía, os seus jardins Pereda, a catedral e a península de la Magdalena encheram-me os olhos de beleza e de história! A tarde foi também de contemplação, no exterior da Pontificia Universidad e nos interiores do Sobrellano Palácio e do El Capricho, de Gaudí, o arquitecto catalão modernista, na aldeia histórica de Comillas. Outras visitas muito enriquecedoras continuaram pela costa cantábrica — em Santillana del Mar, um passeio a pé pela cidade velha, admirando o património de pedra dourada; em San Vicente de la Barquera, o castelo e a esplêndida vista da altaneira Igreja de Santa Maria de los Angeles; em Liérganes, uma das aldeias mais bonitas de Espanha, a lenda do homem-peixe.

Na província da Biscaia, Guecho, Portugalete e a capital Bilbau eram também pontos da agenda turística. Confesso que entrar no País Basco gerara em mim um misto de sentimentos. Afinal, não fora há muito tempo que a ETA terminara o conflito armado de seis décadas. Quem sabe se, impulsionados com o independentismo da Catalunha, os nacionalistas da ETA não desrespeitam a trégua acordada? Para compensar pensamentos negativos, veio-me à memória a coragem de Hans ao vencer as tempestades do Golfo de Biscaia, na sua fuga de Vig.

A famosa Ponte da Biscaia, Património Mundial da UNESCO, que une as duas margens da ria de Bilbau, a primeira do seu género a ser construída no mundo, deixou-me boquiaberta, pela sua singularidade. Sobrevoar a ria, de barco, foi igualmente uma experiência única. E as obras de arte à volta do Museu Guggenheim (com exposição de Joana Vasconcelos no próximo Agosto) deslumbraram-me pela imponência. A escultura floral do cachorro gigante Puppy, de Jeff Knoons, colocada na entrada principal da praça para nos dar as boas-vindas, e a aranha Mamá, com seus ovos, da escultora Louise Borgoise, simbolizando a força e a fragilidade da maternidade, são dois exemplos dessas obras impressionantes. O projecto do Museu fez parte de um esforço de revitalização de Bilbau, após a decadência das indústrias nos anos oitenta, tornando-se numa referência da arquitectura contemporânea. Desenhado por Frank Gehry, construído em vidro e titânio e com a forma de navio ancorado no rio, foi inaugurado em 1997, logo se transformando em símbolo da cidade. Ainda em Bilbau, não pudemos deixar de provar os pintxos, uma especialidade basca, admirar o Barrio Deusto e passear pela Cidade Velha e as Sete Ruas.

E foi assim que, de alma e sentidos cheios de cultura e aventura, regressei a Portugal, não sem antes fazer a paragem obrigatória em Salamanca para revisitar a catedral, afluir à Plaza Mayor por uma das suas doze entradas e sentir a agitação estudantil da universidade.

Inês Silva

 

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