Rajoy abre corrida à sua sucessão e garante: “Não tenho delfins”
Congresso extraordinário para a escolha do próximo líder do PP agendado para 20 e 21 de Julho. Ex-presidente do Governo desmarca-se de qualquer potencial candidatura e pede competição “construtiva”.
Já passaram quase quinze anos desde a última vez que o Partido Popular (PP) renovou a sua liderança. Nessa ocasião, o nome do sucessor de José Maria Aznar foi sugerido pelo próprio, poupando à formação conservadora espanhola uma debate agitado sobre o assunto. Mas desta vez tudo é diferente. Não só o PP se encontra numa das maiores encruzilhadas da sua história e a precisar de debater, como o “herdeiro” de Aznar, Mariano Rajoy, rejeita patrocinar qualquer um dos potenciais candidatos ao seu lugar.
O ex-presidente do Governo de Espanha – derrubado no início de mês por uma moção de censura do PSOE, na sequência das sentenças do caso de corrupção Gürtel, que envolveu directamente o partido – deu esta segunda-feira o tiro de partida para a corrida à sua sucessão, anunciando que o congresso extraordinário do partido, onde será oficializada essa escolha, está marcado para os dias 20 e 21 de Julho. E com um anúncio veio a promessa de isenção e distanciamento totais.
“De mim podem esperar respeito absoluto. Não quero, nem posso designar um sucessor. Não vou apontar o dedo, nem vou vetar ninguém. Não vou influenciar nem condicionar a vossa eleição livre. Não tenho sucessores, nem delfins”, garantiu Rajoy, citado pelo El País.
Implicado em sucessivos escândalos de corrupção, enfraquecido pela gestão problemática da questão catalã e ainda a pagar os juros, junto do eleitorado, pela imposição da austeridade durante o período mais negro da crise financeira – que fizeram irromper pela habitual arena bipartidária plataformas políticas como o Cidadãos ou o Podemos –, o PP encontra-se profundamente fracturado e abatido e corre o risco de converter a campanha para a escolha do próximo presidente do partido num palco de acusações, calúnias e difamações.
Compreende-se, por isso, o posicionamento neutral assumido pelo antigo chefe do executivo, que, assumindo que o processo “é delicado” e que “pode provocar tensões”, suplicou aos militantes, delegados e candidatos que pugnem por uma “competição natural e sã”, que “sejam construtivos” e que aproveitem o momento para “somar e integrar”. Uma mensagem que o portal El Diario traduz para: “Evitem o jogo sujo”.
A tempestade que a imprensa espanhola prevê para o próximo mês e meio dentro do PP ainda não tem, no entanto, protagonistas assumidos. A ex-vice-presidente do Governo, Soraya Sáenz de Santamaría, o presidente da Junta da Galiza, Alberto Nuñez Feijóo, e a secretária-geral do PP, Dolores de Cospedal, são os nomes mais falados para a corrida, mas nenhum deles oficializou ainda a candidatura – terão de o fazer até ao dia 20 de Junho.
Feijóo tem conseguido apoios junto das estruturas regionais e provinciais do PP e uma candidatura sua – que em Espanha todos os jornais apontam como certa – é vista com bons olhos pelas bases. Mas a possibilidade de o partido poder ter como presidente Santamaría ou Cospedal está a ser encarada por uma ala importante da militância popular como uma boa resposta a Pedro Sánchez e ao PSOE, cujo novo Governo, composto por 17 pessoas, soma 11 mulheres.
“Em quem é que temos de votar?”
A escolha do novo líder será feita através de duas votações. No dia 5 de Julho, os militantes inscritos votarão no seu candidato, bem como nos delegados que os representarão no congresso. Os dois mais votados apuram-se para a votação final. A derradeira eleição pode ser, no entanto, uma mera aclamação do vencedor, caso um dos aspirantes à liderança do PP junte, na primeira votação, mais 50% dos votos, mais de 50% das circunscrições ou mais 15 pontos que o segundo mais votado.
Segundo El Independiente, os conservadores têm cerca de 860 mil membros – é o partido espanhol com mais militantes –, sendo que neste tipo de eleições não costumam participar mais de 100 mil.
Enquanto não se sabe quem vai concorrer à sucessão de Rajoy, é difícil perceber se este número vai diminuir ou aumentar e por isso a campanha ainda está na fase precoce da troca de telefonemas entre militantes, simpatizantes e líderes regionais. E sem uma inclinação do líder, diz uma fonte do PP àquele site noticioso, há uma pergunta mais repetida que todas as outras: “Em quem é que temos de votar?”