Trump critica comércio "estúpido". Alemanha apela à acção da Europa
O ministro da economia germânico já veio dizer, nesta segunda-feira, que não vê solução para a disputa com os EUA, mas crê que a cimeira do G7 contribuiu para o sentimento de união necessário aos Estados europeus para responder à administração Trump.
O ministro da economia alemão veio dizer, nesta segunda-feira, que não vê uma solução para a disputa com os EUA mas que a Europa deve agir de forma incisiva em relação ao proteccionismo norte-americano. Do lado dos EUA, surgem críticas severas a Justin Trudeau e aponta-se o dedo à falta de justiça no comércio internacional.
“É importante que os europeus ajam de forma decisiva”, disse Peter Altmaier, ministro da Economia alemão, à rádio pública germânica Deutschlandfunk, este domingo, no rescaldo de uma cimeira do G7 que não eliminou a imposição as barreiras alfandegárias entre Washington e os parceiros. “Neste momento não há nenhuma solução à vista, pelo menos a curto prazo", disse o ministro.
Altmaier disse que a cimeira do G7 apenas resultou em mais “dificuldades” e acrescentou que as novas tarifas sobre automóveis anunciadas pela administração Trump não vão só afectar os Estados europeus: a economia norte-americana também vai sair prejudicada.
A reunião entre os representantes das sete maiores potências económicas mundiais não acabou como previsto. O comunicado final da cimeira, que decorreu em Charlevoix (Canadá), foi escrito a sete mãos e nele salientava-se a necessidade de unir esforços no combate ao proteccionismo, com vista a um comércio “livre, justo e mutuamente benéfico”. Mas Donald Trump decidiu, no último momento, retirar o seu apoio ao documento e surpreendeu tudo e todos com o anúncio de novas tarifas sobre a indústria automóvel, que afectam particularmente a Alemanha.
Apesar de as relações com os norte-americanos terem ficado tremidas, o ministro da Economia germânico crê que as relações entre os Estados europeus saíram fortalecidas da cimeira: “A comoção da cimeira do G7 no Canadá uniu ainda mais a União Europeia. É importante que mostremos união a todos os níveis”, disse Altmaier, à chegada a uma reunião com os homólogos europeus, no Luxemburgo, citado pela Reuters.
A chanceler alemã, Angela Merkel, já tinha comentado os acontecimentos da cimeira numa entrevista à radiotelevisão germânica, neste domingo. Confirmando a intenção europeia de retaliar face às medidas proteccionistas norte-americanas, Merkel disse que os Estados europeus devem defender os seus princípios.
A resposta alemã (e europeia) às tarifas norte-americanas será pensada de acordo com o que ditam as regras internacionais da Organização Mundial do Comércio. Angela Merkel vai reunir-se nesta segunda-feira com a directora do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, o director-geral da Organização Mundial do Comércio, Roberto Azevedo, o Secretário-Geral da OCDE, José Ángel Gurria, e o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim.
A "traição" de Trudeau: “O comércio justo é estúpido quando não é recíproco”
Justin Trudeau, primeiro-ministro canadiano, não poupou críticas à nova política alfandegária dos Estados Unidos (que anuncia o aumento das tarifas aplicadas sobre o aço e alumínio importado da União Europeia, Canadá e México) durante a reunião do G7. O Canadá tem planos para penalizar as importações norte-americanas já a partir de 1 de Julho, algo que enfureceu a administração Trump e serviu como justificação para a retirada do apoio norte-americano ao documento final da cimeira.
Mas Trump foi mais longe e apodou Trudeau de “fraco” e “desonesto” no mesmo tweet em que anunciou a retirada do comunicado conjunto do G7. Palavras que viriam a ser ecoadas por Larry Kudlow, director do conselho económico norte-americano, que também esteve presente nas negociações na cimeira do G7. Numa entrevista para o programa da CNN, State of the Union, deste domingo, Kudlow disse que o primeiro-ministro canadiano instigou “uma traição” e que “essencialmente enganou o Presidente Donald Trump”, com quem devia estar, supostamente, a cooperar.
Kudlow esclareceu também que Trump se havia retirado do comunicado para proteger os seus interesses na cimeira histórica com a Coreia do Norte, em Singapura. “O Presidente dos EUA não vai deixar que o primeiro-ministro canadiano o use”, disse Kudlow à CNN. “Não vai permitir nenhuma demonstração de fraqueza antes da viagem para negociar com a Coreia do Norte. Nem devia.”
Já nesta segunda-feira, Trump continuou a esgrimir argumentos contra o Canadá e Justin Trudeau. Usando a sua rede social favorita, o presidente norte-americano escreveu no Twitter que “o comércio justo [fair em inglês] é comércio estúpido [fool] quando não é recíproco”. “De acordo com um documento canadiano, eles fazem quase 100 mil milhões de dólares no comércio com os EUA (devem ter estado a gabar-se disso mas foram apanhados). Pelo menos 17 mil milhões. O imposto sobre os nossos lacticínios está nos 270%. E depois Justin [Trudeau] faz-se de coitado quando o denunciamos.”
“Porque é que eu, enquanto Presidente dos Estados Unidos, devo continuar a permitir que os países continuem a obter excedentes comerciais massivos, como acontece há décadas, enquanto os nossos agricultores, trabalhadores e contribuintes têm um peso tão grande e injusto a pagar? Não é justo para o povo norte-americano!”, escreveu num segundo tweet.
Peter Navarro, conselheiro de Comércio de Trump, disse no domingo, em entrevista à Fox News, que Trudeau merecia “um lugar especial no inferno”. “Há um lugar especial no inferno para os líderes internacionais que começam diplomacia de má-fé com o Presidente Donald Trump e depois tentam apunhalá-lo pelas costas durante a sua saída e foi precisamente o que Justin «Má-Fé» Trudeau fez naquela conferência de imprensa”, disse Navarro.
Já Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, discorda. Num tweet, Tusk escreveu que havia “um lugar especial no céu” para Trudeau, a quem agradeceu a organização “perfeita” da cimeira.
Chrystia Freeland, ministra dos Negócios Estrangeiros canadiana, disse aos repórteres no Québeque que o “Canadá não conduz a sua diplomacia através de ataques ad hominem… e abstemo-nos especialmente de ataques ad hominem quando vêm de um aliado próximo”, cita o Guardian.
O comunicado final do G7 que seria recusado por Trump defendia o comércio “livre, justo, mutuamente benéfico” entre os países e dizia que as sete economias iriam esforçar-se “por reduzir as barreiras tarifárias, as barreiras não tarifárias e os subsídios [de exportação, por exemplo]”. Em Charlevoix, Trump chegou a afirmar: “Sem tarifas, sem barreiras – assim é que deveria ser. E sem subsídios”. A sua recusa em assinar o documento final do G7 foi anunciada já a bordo do Air Force One, avião oficial da presidência norte-americano, a caminho de Singapura, onde se irá encontrar, esta terça-feira, com Kim Jong-Un.