Teotónio de Almeida pede que Portugal reassuma papel de "rampa de saída"

O presidente das comemorações do 10 de Junho diz que Portugal é um "país moderno e aberto" alheio aos conflitos que decorrem em outras geografias do globo.

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Onésimo Almeida LUSA/EDUARDO COSTA

O presidente das comemorações do 10 de Junho, Onésimo Teotónio de Almeida, disse hoje que Portugal, que abriu rotas em todo o planeta, pode "reassumir o papel de rampa de saída, de ponte sobre o Atlântico".

"Lá de fora sentimos com afago todo este interesse por Portugal e pelos Açores, em particular, e bem gostaríamos que ele fosse mais do que apenas uma descoberta do país como paraíso de férias e aposentação. Queremos o reconhecimento de um Portugal que abriu rotas para as mais diversas partes do planeta e agora bem poderá reassumir esse seu papel de rampa de saída, de ponte sobre o Atlântico", declarou.

O professor catedrático da Universidade de Brown, nos Estados Unidos da América, que falava em Ponta Delgada na cerimónia comemorativa do 10 de Junho, afirmou que Portugal é um "país moderno e aberto" alheio aos conflitos que decorrem em outras geografias do globo, que se pode "constituir como esse espaço privilegiado".

Onésimo Almeida, também ele um emigrante nos Estados Unidos, de origem açoriana, considerou que o país se poderia transformar numa "ágora grega de encontro de culturas", um "polo dinamizador que fortaleça a ligação entre a Europa e a América" e que utilize os Açores "como trampolim", um papel desempenhado pelo arquipélago durante meio milénio.

Se o debate em curso sobre o mar reverter a favor da região, acrescentou, "bem se poderá ver a superfície dos Açores alargada de modo exponencial" e as ilhas, "sempre lugar de pouca terra e muito mar", passarem a ser uma "espécie de mapa azul" de "horizontes largos e promissores", passando o oceano envolvente a "verdadeiro rio Atlântico".

Nesse sentido, o intelectual açoriano desejou que Portugal e os países lusófonos, sobretudo os atlânticos, se entendam e consigam "ultrapassar preconceitos", construindo-se como "uma força e uma voz", sem ser necessário "embarcar na 'jangada de pedra' de José Saramago".

Assim, evitava-se do que se acabe "dominado pelos gigantes mundiais de hoje, sobretudo o anglófono, entrando a presença açoriana nos Estados Unidos como um pilar nessa rede de pontos".
Onésimo Almeida destacou ainda que, hoje, muitos jovens de origens açorianas querem "reatar a sua ligação com Portugal" e deu o exemplo do sobrinho, nascido nos Estados Unidos, que, após o tio preparava a intervenção para o 10 de Junho, "felicíssimo, comunicou ter obtido a cidadania portuguesa para si e para a sua filha".

Considerando que os Estados Unidos são uma "ideia europeia decidida a fazer-se realidade", o docente disse que a "modernidade euroamericana foi erguida em torno de um conjunto de valores que têm que prevalecer".

Na sua leitura seria "tragicamente prejudicial à Europa, aos Ocidente, que inclui as Américas, e ao mundo em geral, o afastamento" dos valores da liberdade, justiça, progresso, verdade e tolerância "ou não os ter como ideias norteadores das decisões colectivas".

"A Europa não pode vacilar e abdicar do seu papel, agora cada vez mais depurada das mazelas que historicamente criou ou ajudou a criar e a que os portugueses não foram alheios", afirmou.

Para Onésimo Almeida o país fixar-se numa identidade do passado é um "erro insustentável", havendo que "agarrar um outro conceito de identidade que permita unir em torno de um futuro a construir e a deixar como herança aos filhos".