Portugal em ofensiva diplomática “sem precedentes” nos EUA
Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros, que integra a vasta comitiva portuguesa que a partir de hoje tenta seduzir os EUA, diz ao PÚBLICO que “não há nenhuma espécie de esfriamento” nas relações entre os dois países na sequência da eleição de Trump.
Mais de 525 anos depois de Cristóvão Colombo ter chegado à América, julgando ir a caminho da Índia, Junho de 2018 pode muito bem vir a ser o mês em que Portugal se lança na redescoberta dos Estados Unidos. A aventura começa oficialmente hoje (apesar de algumas iniciativas de arrastarem desde Maio), com a chegada do Presidente da República para comemorar o 10 de Junho em Boston. O primeiro-ministro também lá estará e ainda fica mais uns dias, até 16 de Junho. O mês não deverá acabar sem que Marcelo Rebelo de Sousa regresse para se juntar, num encontro oficial (provavelmente no dia 27), a Donald Trump, o seu homólogo americano.
“Desde 2016 que o Dia de Portugal é também comemorado no estrangeiro, junto de uma comunidade residente no respectivo país. Em 2016, foi em Paris; em 2017, em São Paulo; em 2018, será em Boston. Este foi o ponto de partida para conceber e implementar um programa mais vasto, potenciando os efeitos daquela comemoração e, sobretudo, refirmando os estreitos laços que unem os dois países e a riqueza da agenda bilateral”, explica o ministro dos Negócios Estrangeiros ao PÚBLICO.
A expressão usada para englobar tudo o que está previsto é “ofensiva diplomática”. Uma metáfora, garante Augusto Santos Silva. “Ofensiva diplomática é uma expressão naturalmente metafórica para designar um conjunto de iniciativas no plano político-diplomático, económico, cultural, de relação com as comunidades luso-americanas”. Na verdade, são cerimónias oficiais, encontros com a comunidade, exposições, filmes, workshops, inaugurações, torneios de golfe, festas populares e religiosas, festivais de gastronomia, provas de vinho e concertos com artistas que vão de Mário Laginha e Pedro Burmester a Camané, passando por Áurea, Mariza ou António Zambujo.
O Mês de Portugal celebra-se em 60 cidades de 12 estados americanos e arrasta vários membros do Governo para alguns dos 135 eventos previstos. “Estarão envolvidos em diferentes momentos do programa, além do primeiro-ministro, os ministérios dos Negócios Estrangeiros, da Defesa Nacional, da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e da Economia”, regista o chefe da diplomacia portuguesa, assumindo que, como este executivo, nunca houve uma ofensiva do género. “Com esta dimensão não há precedente no que respeita ao actual Governo, embora, naturalmente, as celebrações já referidas, em Paris e em São Paulo, tenham também constituído ocasião para contactos com as autoridades e outros parceiros.”
Além dos políticos que vêm de Portugal para participar nas celebrações, lá estarão também os eleitos luso-americanos com presença na política dos EUA. Um dos eventos agendados com a colaboração da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) é a Cimeira da California American-Portuguese Coalition (CAPC), a 13 e 14 de Junho, em Sacramento, que juntará 80 luso-descendentes que integraram o processo eleitoral americano. A CPAC é uma organização sem fins lucrativos criada em 2017 por Steven nascimento, um jovem ex-autarca em Turlock, cidade onde reside uma importante comunidade portuguesa.
Também se fará política em encontros de governantes portugueses com autoridades estaduais e federais americanos.
Novas fronteiras
Os propósitos desta ofensiva diplomática têm a ver com a necessidade de dar a conhecer um novo Portugal, país moderno e aberto ao mundo, como diz António Costa na brochura que lança a iniciativa. Tanto a nível turístico como económico. “Neste Mês de Portugal, convidamo-lo a descobrir um Portugal moderno, país aberto ao mundo, com um ambiente de negócios amigável e onde a aposta na infra-estruturas, na inovação tecnológica e na qualificação dos mais jovens está a dar os seus frutos. Uma nova fronteira à espera de ser explorada”, apresenta o primeiro-ministro.
O PÚBLICO quis saber, junto do ministro dos Negócios Estrangeiros, se esta ofensiva não tentará, por outro lado, travar o distanciamento dos EUA face à Europa, que se tem acentuado desde o início da presidência de Donald Trump, mas Santos Silva rejeitou. “Do ponto de vista português não há nenhuma espécie de esfriamento e esta iniciativa quer também mostrá-lo. Pelo contrário, a relação de cooperação entre os dois países, nos diferentes planos que lhe dão conteúdo, tem crescido e tem-se diversificado”, garante.
Adicionalmente, Augusto Santos Silva esclarece que este também ainda não será o momento para pôr em marcha o plano de trazer de volta a Portugal alguns emigrantes que deixaram Portugal nos anos da troika, como o primeiro-ministro anunciou no congresso do PS, no final de Maio. “Como o primeiro-ministro explicou, esse novo programa será lançado aquando do Orçamento”, conclui Augusto Santos Silva.
Este domingo, 10 de Junho, as celebrações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas começam no meio do Atlântico, nos Açores, e só terminam em território americano. Marcelo e Costa estarão juntos em Boston, mas a inauguração do Monumento aos Veteranos Luso-Americanos em Newark, e as festas populares do Espírito Santo, um pouco por todo o país, serão outros momentos marcantes.
A ofensiva diplomática que decorre durante o mês de Junho envolve a Embaixada de Portugal nos EUA, várias entidades governamentais e departamentos federais, mas também mais de uma centena de fundações, associações, empresas, bancos e até um barco. O emblemático Navio-escola Sagres, que costuma marcar presença nestes eventos, vai estar em Boston até ao dia 12 de Junho e em Miami a 1 de Julho.