O homem que transformou a Starbucks deixa empresa e pondera candidatura presidencial
Howard Schultz esteve à frente da empresa durante 36 anos. Agora deixa o cargo de chairman executivo e pondera dedicar-se ao serviço público do país, mas o cenário ainda está em aberto.
Howard Schultz, o gestor e chairman executivo da cadeia de lojas Starbucks, vai abandonar definitivamente a direcção da empresa. A sua saída acontece depois de 36 anos à frente da empresa. Em 2017, Schultz já tinha deixado o cargo de presidente executivo (CEO), tendo permanecido na empresa como chairman executivo, um cargo com uma maior participação no dia-a-dia da empresa do que o tradicional chairman. Agora o afastamento é definitivo e apontam-se ambições políticas a Schultz. A mudança acontecerá a 26 de Junho.
O seu afastamento está a ser interpretado como uma possível preparação para as eleições presidenciais de 2020. Numa entrevista ao New York Times, o gestor não põe de parte essa possibilidade. “Uma das coisas que quero fazer no meu próximo capítulo é perceber se existe um papel onde possa dar o meu contributo à comunidade. Ainda não sei bem o que isso significa”, disse. “Quero pensar num conjunto de possibilidades e isso inclui serviço público. Mas estou muito longe de tomar decisões acerca do meu futuro”, assegurou.
Schultz, de 64 anos, diz ainda estar “profundamente preocupado com a crescente divisão interna e na imagem exterior [dos EUA]”. Próximo do Partido Democrata, apoiou Hillary Clinton na eleição presidencial de 2016.
Ainda que não tenha sido Schultz a fundar a Starbucks, foi ele quem deu a grande viragem à empresa (pequena, na altura) que tinha sido criada por dois professores e um escritor, que tinham decidido aventurar-se em 1971 na venda de grãos de café de qualidade, nos Estados Unidos.
Descrito como “líder visionário” da marca pelo New York Times, Schultz revolucionou o conceito da Starbucks quando lá chegou como gestor de uma empresa sueca de utensílios de cozinha, em 1982. Inaugurada em 1971 em Seattle por dois professores e um escritor, a Starbucks sofreu uma viragem quando Howard Schultz chegou à direcção de operações e marketing da empresa. Com apenas quatro lojas até à chegada de Schultz, a empresa apostou na introdução de café e lattes italianos, que o então director de operações e marketing havia trazido de uma viagem a Itália em 1983. Foi então que a marca se começou a distinguir no mercado, deixando para trás o seu passado de simples loja de venda de grãos de café avulso. Com a expansão da marca, Howard Schultz acabou por comprar as acções aos donos da empresa, que continuou a crescer e expandir-se para fora dos EUA. A primeira loja chegou ao território português em 2008.
A empresa foi uma das primeiras retalhistas a oferecer aos seus funcionários seguro de saúde. Paralelamente, também assumiu várias posições na defesa de questões relacionadas com a imigração. Recentemente, após o escândalo provocado por um incidente quando a gerente de um estabelecimento Starbucks em Filadélfia chamou a polícia ao ver dois homens negros sentados no café sem fazer despesa, Schultz esteve presente na acção de formação contra o racismo.
Na última semana, Schultz frisou que a empresa não queria transformar-se “num abrigo ou casa de banho pública, mas assumiu o desejo de "liderar e gerir uma empresa com um olhar humano”. “É um equilíbrio muito deliciado”, concluiu.
O sucessor de Howard Schultz já é conhecido. Será Myron E. Ullman, antigo chairman da J. C. Penney, e assumirá funções já no final deste mês.