Vermont recorre ao teletrabalho para conquistar novos habitantes
Estado norte-americano oferece 10.000 dólares para quem quiser migrar para o território, continuando a trabalhar à distância para uma empresa noutro local.
O governador do Vermont, o republicano Phil Scott, promulgou na quarta-feira uma lei que prevê apoios financeiros de até 10.000 dólares, num período de dois anos, para quem quiser fazer daquele estado norte-americano a sua nova morada, trabalhando remotamente para um empregador noutro estado — uma tendência crescentemente seguida por várias grandes empresas nos EUA, e não só.
A medida, explica o governador, visa combater o envelhecimento e a perda da população daquele pequeno estado (cerca de 600.000 habitantes), que também tem levado à redução da base tributária. A partir de 2019, o governo estadual oferece até cinco mil dólares por ano, durante dois anos, para cobrir os custos da mudança, a aquisição de computadores, a ligação à Internet e as despesas em espaços de co-working.
O programa, sublinhe-se, tem um alcance limitado. Só serão aceites os candidatos com contrato de trabalho a tempo inteiro com uma empresa noutro estado norte-americano, e cujas funções possam ser desempenhadas à distância. Impõe-se também a obrigatoriedade de se tornarem residentes legais do Vermont em 2019. E, claro, a oferta está disponível apenas para cidadãos intrépidos que se sentam capazes de suportar os invernos rigorosos do Vermont.
Segurança e menos impostos
Em entrevista ao New York Times, o senador estadual Michael Sirtotkin explicou a filosofia por trás do projecto. “No primeiro dia da sessão legislativa, questionámo-nos sobre o que é que o Vermont tinha que o distinguia do resto dos estados rurais dos EUA”, contou. E enumerou os pontos fortes do estado: reduzida criminalidade, casas a preços relativamente acessíveis e a proximidade de grandes cidades como Boston, Nova Iorque ou Montreal (do outro lado da fronteira canadiana).
“Se trabalhar para uma empresa de tecnologia, não precisa necessariamente de estar preso ao escritório”, defende Sirtotkin, que apresenta o Vermont como uma solução para quem quiser “sair de um ambiente urbano e mudar-se para um ambiente rural" e para aqueles que "recebem bem e não querem deixar os seus empregos”.
Os candidatos seleccionados terão de pagar impostos estaduais. Mas, como afirma à CNN a responsável pelo desenvolvimento económico Joan Goldstein, "se se mudarem a partir de Nova Iorque, os impostos são mais baixos" no Vermont.
O estado antecipa gastar 125 mil dólares e abranger 100 pessoas em 2019, prevendo números semelhantes para os anos seguintes — a intenção é que o programa tenha continuidade.
Uma tendência em crescimento...
O Vermont tenta, desta forma, responder ao seu problema demográfico e fiscal aproveitando o crescimento do teletrabalho nos EUA. Em 2017, e segundo um inquérito do instituto Gallup, cerca de 25% dos trabalhadores norte-americanos desempenhavam as suas funções à distância a maior parte do tempo.
Algumas empresas funcionam já integralmente em regime de trabalho à distância. O site Quartz, que também noticia a iniciativa do Vermont, refere o exemplo da Automattic, empresa por detrás do software de gestão de sites Wordpress. A companhia tem 700 trabalhadores em 62 países, da Argentina ao Zimbabué, e em 2017 fechou os seus escritórios de São Francisco, na Califórnia, porque o número de funcionários que ali trabalhavam era cada vez mais diminuto.
Em vez de terem acesso aos escritórios da empresa, os funcionários da Automattic recebem um subsídio mensal de 250 dólares para trabalhar em espaços de co-work ou em cafés Starbucks. O contacto directo fica reservado para uma grande reunião anual da companhia.
Matt Mullenweg, o fundador da empresa, disse ao Quartz que esta foi a melhor opção do ponto de vista económico e ético, acabando com a exclusão de potenciais funcionários que, por motivos físicos ou pessoais, não podem aceder a um escritório.
...mas com reservas
No entanto, e apesar do crescimento desta tendência nos EUA, não se pode dizer que exista um consenso. Há até empresas que, tendo sido percursoras no teletrabalho, acabaram por abandonar o modelo. Foi o caso da Yahoo, o Bank of America e a IBM. Esta última colocou termo, em 2017, à prática de trabalhar à distância da sua unidade de marketing, que operava naquele regime desde 1980.
A responsável por aquela equipa da IBM, Michelle Peluso, argumenta que a falta de socialização cara-a-cara do modelo de teletrabalho custa boas ideias às empresas, uma vez que se perde o chamado “efeito da máquina da água” (water cooler effect, no termo original em inglês). Esse foi também o motivo que em 2013 levou a então CEO da Yahoo, Marissa Meyer, a abolir o trabalho à distância na empresa.