A expedição Blue Azores vai andar por mares pouco explorados

Durante três semanas, uma equipa de cientistas vai explorar o mar em volta das ilhas do Corvo e das Flores, nos Açores. Esperam encontrar novos habitats, cartografar o fundo e quantificar a biodiversidade. No final, vai dar um documentário da National Geographic Society.

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As áreas pouco conhecidas dos Açores são o objectivo da expedição durante este mês de Junho Fundação Oceano Azul/Emanuel Gonçalves

Um primeiro mergulho demorado e profundo numa das zonas mais inexploradas do mar açoriano – é o que se propõe fazer a expedição científica Blue Azores que durante as próximas três semanas vai navegar entre as ilhas das Flores e do Corvo.

A Blue Azores Expedition – liderada por Emanuel Gonçalves, biólogo marinho no ISPA – Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida (em Lisboa), e por Paul Rose, do projecto Mares Pristinos da National Geographic Society – pretende cartografar o fundo marinho naquela zona e procurar novos habitats.

“Esta expedição resulta de uma pré-expedição feita em 2016, tem por objectivo explorar algumas zonas menos conhecidas desta área”, sintetizou ao PÚBLICO Emanuel Gonçalves, explicando que o mar das ilhas (Flores e Corvo) que compõem o grupo ocidental do arquipélago açoriano, é ainda pouco conhecido.

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Nos ilhéus das Formigas, Açores, em 2016 Emanuel Gonçalves

Sabemos, continua o biólogo que integra a comissão executiva da Fundação Oceano Azul, que juntamente com a Fundação Waitt organizou a expedição, que esta área é rica em fontes hidrotermais, fazendo com que aquelas águas tenham uma elevada concentração de nutrientes e minerais. Agora, falta quantificar o que essas fontes hidrotermais representam em termos de biodiversidade.

Esse é um dos trabalhos a serem realizados nas próximas três semanas, de 3 a 24 de Junho, mas existem outros. A expedição, explica-se em informação da Fundação Oceano Azul, é formada 23 cientistas de diferentes áreas de investigação, que serão organizadas em quatro equipas. “Vão estar dedicadas a censos de biodiversidade, à marcação e colocação de transmissores, à recolha remota de imagens através de câmaras com isco, ao estudo de habitats de profundidade e a mergulhos com o ROV Luso [ veículo submarino de operação remota pertencente à Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental]”, elenca a Fundação Oceano Azul.

“O ROV vai permitir-nos explorar a cordilheira meso-atlântica, para descobrir novos habitats, ao mesmo tempo que vai cartografar o fundo oceânico dando uma percepção mais fina do relevo e geografia daquela zona”, adianta Emanuel Gonçalves, admitindo que possam ser descobertas novas espécies. “Cada vez que exploramos o oceano, corremos esse risco, embora esta seja uma expedição curta.”

Além da equipa científica, composta por especialista da Universidade dos Açores, da Instituição Oceanográfica Woods Hole, da Universidade do Havai (ambos nos EUA) e do Conselho Internacional para a Exploração do Mar, a expedição integra uma equipa de filmagens e fotografia da National Geographic e da Fundação Waitt, e o fotógrafo português, Nuno Sá, que recentemente viu o trabalho premiado em Abril nos BAFTA TV Awards, pelas imagens que realizou para a série televisiva Planeta Azul 2, da BBC.

A expedição terá como base o navio Santa Maria Manuela, um clássico bacalhoeiro irmão gémeo do Creoula, que entre 1937 e 1992 integrou a frota portuguesa na pesca do bacalhau na Terra Nova. O navio, que foi completamente renovado em 2010, terá a companhia do N.R.P. Almirante Gago Coutinho, da Marinha Portuguesa, que estará ao serviço do Instituto Hidrográfico a mapear os fundos oceânicos na zona, e ainda da lancha de investigação açoriana Águas Vivas.

A bordo da expedição segue também o investigador Alan Friedlander, que conta com mais de oito mil horas de mergulho, explorando algumas das regiões mais remotas e desafiadoras do planeta. “Queremos explorar também os ambientes menos profundos (30 metros), quantificando a fauna e a flora existentes e comparando-as com outras zonas do oceano”, explica Emanuel Gonçalves, dizendo que enquanto o ROV Luso vai “bater” a profundidades entre os 200 e 300 metros e os 1000 e 1500 metros, os mergulhadores vão querem perceber o que acontece em zonas de menor profundidade.  

Além de censos sobre o estado de saúde das espécies e da colocação de câmaras de profundidade e câmaras com isco para avaliação dos ecossistemas marinhos, as intervenções a realizar passam ainda pelo uso de câmaras com isco em zonas de mar aberto para avaliar a ocorrência de megafauna e de outras espécies e ainda a marcação de megafauna marinha com transmissores de rádio e satélite utilizando equipamento não evasivo.

É um ambiente marinho até agora pouco conhecido e que conta com importantes montes submarinos como o Gigante, Princesa Alice e o Cachalote, acrescenta Emanuel Gonçalves, falando em mergulhos nocturnos no oceano para filmar e fotografar a biodiversidade daquele mar, que integra a rede de reservas da UNESCO.

A National Geographic Society, através da iniciativa Mares Pristinos, juntou-se à viagem para produzir um documentário sobre a expedição, a exemplo do que aconteceu em 2016 com as ilhas Selvagens, na Madeira.

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