A Rádio Faneca vai voltar a emitir e até já tem um CD com a sua marca
Festival que foi buscar o nome à emissora que outrora animava o centro de Ílhavo acontece entre os dias 8 e 10. Concertos, visitas guiadas e jogos, integram o cartaz do evento co-produzido pela comunidade
A juventude de Maria Inês Santos – tem 30 anos - não lhe permite ter grandes memórias da antiga Rádio Faneca, emissora que durante décadas animou o espaço público de Ílhavo, com discos pedidos e dedicatórias. Apenas uma em particular e muito especial: “o meu pai fazia lá um programa de autor”, conta a jovem ilhavense que é, desde 2015, a voz principal da emissão radiofónica que serve de mote ao festival que cruza várias áreas performativas e que aposta num forte envolvimento da comunidade local.
Entre os próximos dias 8 e 10, a animadora de rádio, volta a assumir os comandos da emissora que será instalada no Jardim Henriqueta Maia, com um palco onde acontecem programas de artistas como Samuel Úria, Benjamim ou João Moreira e Pedro Santo (criadores de Bruno Aleixo), entrevistas e concertos.
Ao lado de Maria Inês Santos vai estar, este ano, João Vaz Silva, da RUC (Rádio Universitária de Coimbra), numa emissão que se estenderá entre as 10h e as 22h30, durante três dias. Uma verdadeira maratona radiofónica que, ainda assim, é apenas uma das propostas e componentes do festival cultural nascido em 2012. Ao longo do fim-de-semana, há muito para ver e ouvir no centro da cidade de Ílhavo: concertos, histórias nos becos, jogos artesanais, actividades para a família e um projecto em que a comunidade abre as portas das suas casas a amigos e desconhecidos para um jantar e uma performance artística.
Nesta edição da Rádio Faneca, mantém-se a aposta naquela que é já uma das imagens de marca do festival. A Orquestra da Bida Airada – formada por cidadãos de várias faixas etárias, alguns dos quais até sem conhecimentos musicais – volta a assumir um dos espectáculos principais do programa (domingo, pelas 17h00) e, este ano, estará ainda mais sob as luzes da ribalta. A orquestra comunitária vai lançar um CD – com sete canções que tentam representar as cinco edições do projecto.
“É um marco muito importante”, destaca Ricardo Baptista, coordenador da orquestra, explicando que o lançamento deste CD vem contrariar aquilo que acontece na grande maioria destes projectos comunitários. “É tudo muito efémero, desaparece no fim dos concertos e apresentações”, nota este responsável, ao mesmo tempo que se mostrava orgulhoso por ver a orquestra ilhavense a ser brindada “com a possibilidade de fixar numa gravação aquilo que já é um reportório”.
Músicas que contaram com a colaboração de cerca de 300 pessoas – participantes que, ao longo dos últimos anos, já passaram pela orquestra – e que se relacionam com temas como o bacalhau, o mar, ou o farol, que são marcas identitárias de Ílhavo. Para a gravação do disco, foi feita uma convocatória à qual responderam “muitas pessoas que já participaram em anos anteriores e também algumas novas”, testemunha Ricardo Baptista.
Entre os repetentes está João Neves, de 11 anos, que toca Djembé, e é presença constante na Bida Airada há três anos, juntamente com a mãe. “A orquestra é muito divertida e os ensaios também”, relata. E ainda que o momento coincida com o final de ano lectivo, João Neves assegura que “os ensaios não perturbam as aulas e os testes”. As gravações decorreram durante um mês e o CD - que inclui um livro com histórias da orquestra - vai ser colocado à venda durante o festival, por cinco euros.
Além da actuação da Bida Airada, o programa do festival contempla ainda os concertos de Manel Cruz (dia 8, pelas 22h30) e Cais Sodré Funk Connection (dia 9, 22h30), Psychtrus (dia 9, 15h), Motiv (dia 9, 16h), Ermo (dia 9, 18h) e Luís Severo (dia 10, 21h30), entre outros. E uma vez que a edição deste ano do festival é dedicada ao tema Arquivo, o artista João Martins foi desafiado a reunir memórias e histórias da comunidade, artistas, público e equipa. O resultado é uma exposição sonora, pelos becos do centro histórico, que o público pode ouvir enquanto vê e interage com elementos da história do festival.
Todas as actividades são gratuitas, sendo que apenas a iniciativa Casa Aberta e o concerto de Luís Severo – por questões de espaço e logística – carecem de inscrição prévia. A proposta passa por rumar ao centro da cidade e partir à descoberta das várias propostas deste evento evento que “mais que um festival de música, é um festival de projectos muito especiais que têm um grande legado de Ílhavo e uma história para contar”, vinca Luís Ferreira, director do projeto cultural da câmara de Ílhavo, 23 Milhas. Com essa certeza: este vai ser sempre um evento que aposta numa “relação de proximidade entre a comunidade, os artistas e a organização”, remata o programador.