Frederico Varandas: médico, capitão, adepto e candidato
Entrou no Sporting com Godinho Lopes, passou para a gerência de Bruno de Carvalho e saiu após sete anos em Alvalade, porque não se revê na “faceta autocrática e sectária” do presidente.
Seja daqui a três meses, ou daqui a três anos, as próximas eleições do Sporting já têm, a partir desta quinta-feira, um candidato assumido – Frederico Varandas, que foi o director clínico dos “leões” nos últimos sete anos. Entrou durante a gestão de Godinho Lopes em 2011, sai agora porque não se revê “na faceta autocrática e sectária” de Bruno de Carvalho, com quem conviveu em Alvalade desde 2013. Médico e militar, Varandas comunicou as suas intenções numa publicação no Instagram e teve várias manifestações de apoio entre actuais e antigos jogadores do clube.
Cristiano Piccini meteu um coração verde (o italiano, muito castigado por lesões, esclareceu depois que era um reconhecimento pelo trabalho de Varandas), Bruno Fernandes meteu palmas, enquanto antigos “leões” como Ezequiel Schelotto ou André Santos meteram um “gosto”. Quem não meteu “gosto” a esta dupla decisão de saída/candidatura, foi o Conselho Directivo do Sporting, que a considerou “inusitada” antes de elencar todas as provas em que as equipas de várias modalidades do clube ainda estão envolvidas e de salientar que é preciso garantir o apoio médico a todas.
Foram sete anos de ligação de Varandas ao Sporting, ele que entrou durante a gestão de Godinho Lopes, por influência de João Pedro Varandas, o seu irmão mais velho que era vogal do Conselho Directivo nessa altura (e que é sócio no escritório de advogados de Rogério Alves, outro possível candidato). Mas a ligação emocional de Varandas ao Sporting é bem anterior à ligação profissional. Quando era criança, fez ginástica no Sporting e também fez parte da claque Juventude Leonina durante a adolescência.
Com formação médica (especialista em medicina desportiva e reabilitação) e militar (tem a patente de capitão desde 2009), e também com curso de treinador de futebol, Frederico Nuno Faro Varandas, lisboeta de 38 anos, começou a trabalhar no Vitória de Setúbal em 2007. Durante seis meses em 2008, cumpriu uma comissão de serviço no Afeganistão, durante a qual chegou a estar sob fogo inimigo e tratou soldados feridos numa emboscada. O seu sportinguismo foi com ele para a guerra, como demonstra um episódio que já recordou em entrevistas.
"Estávamos em Kandahar, no meio do deserto, só com os talibãs e perguntei se conseguíamos apanhar o relato [da final da Taça de Portugal da temporada 2007-08, onde o Sporting o FC Porto, por 2-0, no prolongamento]. Nesse dia estávamos em alerta máximo porque os serviços secretos afegãos avisaram-nos de um possível ataque que poderíamos sofrer. Retirámos toda a gente e só ficaram os necessários para combate, nos quais se incluíam o médico e o enfermeiro. Saímos das tendas, porque poderiam ser atacadas, e ficámos num sítio, refugiados, quietos e em silêncio obrigatório. Sem luzes, sem nada. Fui à mochila, com o jogo quase a começar, agarrei no rádio e passados uns minutos estávamos a ouvir a Antena 1. Dos 130 homens, metade estava ali junto a mim a ouvir o relato. Costumo dizer que, pela primeira vez, afegãos e talibãs ouviram o rugido do leão. Nunca esquecerei esse dia", contou ao jornal do Sporting.
Depois de quatro anos no Bonfim, Varandas mudou-se para Alvalade e por lá ficou, mesmo depois de Bruno de Carvalho assumir a liderança do clube em 2013, criando uma aura de competência e recolhendo elogios de vários lados, incluindo de Jorge Jesus – e Leonardo Jardim, que trabalhou com ele em 2013-14, tentou levá-lo para o Mónaco. Também chegou a ser castigado com 30 dias de suspensão e uma multa de 1913 euros pelo Conselho de Justiça da FPF por ter reclamado com o árbitro assistente durante um Sporting-FC Porto, em Agosto de 2016, um castigo que viria a ser reduzido pelo Tribunal Arbitral do Desporto para dois dias de suspensão e uma multa de €1434.
Foi na sua clínica de reabilitação que trabalharam vários jogadores do Sporting nos dias que se sucederam ao ataque a Alcochete e que antecederam a final da Taça de Portugal em que o Sporting seria derrotado pelo Desportivo das Aves. Foi nessa altura que Varandas terá tomado a decisão de avançar para uma candidatura à presidência, mesmo elogiando muito do que Bruno de Carvalho tem feito nos últimos cinco anos à frente do clube. Agora está "completamente livre para participar numa solução de governação do Sporting que respeite os princípios democráticos, éticos e competitivos" da história do clube.
Faço questão de ficar completamente livre para participar numa solução de governação do Sporting que respeite os princípios democráticos, éticos e competitivos que marcam a nossa História.#fredericovarandas pic.twitter.com/M3dmpQzkGL
— Frederico Varandas (@ffvarandas) May 24, 2018