No top 10 das espécies de 2018 há um orangotango em risco e um marsupial já extinto
Um pequeno crustáceo com uma corcunda ou um escaravelho que se agarra ao abdómen de uma formiga são algumas das novidades científicas de 2017 escolhidas agora pelo Instituto Internacional para a Exploração de Espécies.
Chegou a hora de conhecermos o top 10 das espécies descobertas ou descritas em 2017. Para assinalar a data de aniversário do pai da taxonomia moderna, Carlos Lineu (23 de Maio de 1707 – 10 de Janeiro de 1778), o Instituto Internacional para a Exploração de Espécies da Faculdade de Ciências Ambientais e Florestais (ESF, na sigla em inglês), em Syracuse (EUA), divulga desde 2008 uma lista anual com dez espécies. Na compilação deste ano há uma árvore gigante, um orangotango muito raro ou um leão-marsupial já extinto.
Já estamos na 11.ª edição desta lista e a descoberta de novas espécies continua a surpreender. Este ano, um conjunto de taxonomistas escolheu dez seres vivos que se destacaram entre os cerca de 18 mil descritos no ano passado. “Descrevemos cerca de 18 mil por ano, mas pensamos que, pelo menos, se extinguem 20 mil por ano. Muitas destas espécies – se não as encontramos, nomearmos e descrevermos – ficarão perdidas para sempre”, diz Quentin Wheeler, presidente da ESF, num comunicado da sua instituição. “As pessoas estão a alterar habitats e a mudar o clima. Por mais inconveniente que seja adaptar as nossas culturas agrícolas às alterações climáticas e deslocarmos as cidades em cenários mais extremos, o que não podemos mesmo fazer é trazer de volta as espécies que já se extinguiram.”
Por isso, um dos papéis desta lista é chamar à atenção para a importância da biodiversidade. “Fico constantemente fascinado com a quantidade de novas espécies que aparecem e com a variedade de coisas que descobrimos”, frisa ainda Quentin Wheeler. Vejamos então as espécies seleccionadas.
Um enigma no aquário
Deram-lhe o nome científico Ancoracysta twista mas não se sabe qual é a casa deste protista unicelular na natureza. Até agora, o único sítio onde o encontraram foi num aquário tropical do Instituto Scripps de Oceanografia (Estados Unidos). Saber qual é a sua família também tem sido um desafio para os cientistas: “Não se encaixa dentro de nenhum grupo conhecido”, lê-se no comunicado, acrescentando-se que pode pertencer a uma linhagem primitiva de eucariotas com um genoma mitocondrial muito rico. “O número invulgarmente elevado de genes no seu genoma mitocondrial abre uma porta para a evolução primitiva dos organismos eucariotas.”
Uma gigante na Mata Atlântica
A Dinizia jueirana-facao vive na Reserva Natural Vale, no Norte do estado brasileiro de Espírito Santo, tem cerca de 40 metros de altura e pode pesar 56 mil quilos. Os frutos lenhosos que dá também são grandes, podendo alcançar meio metro de comprimento. Mas se esta árvore é grande em tamanho, estará já pouco representada na natureza: conhecem-se só 25 exemplares. Por isso, está classificada como “criticamente em perigo” e serve de exemplo para outros seres vivos da Mata Atlântica que também estão ameaçados. “Esta mata é casa de mais de metade das espécies animais ameaçadas no Brasil, mas a sua extensão tem sido severamente diminuída e fragmentada”, refere-se no comunicado.
Corcunda no oceano Antárctico
No oceano Antárctico, encontrou-se um pequeno crustáceo com cerca de 50 milímetros de comprimento, uma coloração avermelhada e uma corcunda. Por isso, deram-lhe o nome científico Epimeria quasimodo, em homenagem à personagem Quasimodo do livro Notre-Dames de Paris de Victor Hugo. Esta espécie representa um conjunto de 26 novas espécies de crustáceos do género Epimeria que foram descobertas no oceano Antárctico.
Escaravelhos entre formigas
Na Costa Rica há um escaravelho que vive entre as formigas – literalmente. A espécie de escaravelho Nymphister kronaueri mede cerca de 1,5 milímetros de comprimento e, como tem precisamente o tamanho, a forma e a cor do abdómen da formiga nómada Eciton mexicanum, pode ficar aí agarrado. Estas formigas deslocam-se em busca de alimento durante algumas semanas e ficam cerca de três semanas num único sítio. Essas movimentações são sempre acompanhadas pelo Nymphister kronaueri, como se conta no comunicado: “Enquanto o escaravelho se desloca e alimenta quando a colónia hospedeira está parada, viaja no abdómen das formigas quando elas se deslocam para um novo sítio.”
Um orangotango em risco
Em 2001, os orangotangos das ilhas de Samatra e Bornéu, no oceano Índico, foram reconhecidos como espécies extintas, a Pongo abelii e a Pongo pygmaeus, respectivamente. Anos depois, em 2017, uma equipa internacional de cientistas analisou os comportamentos e a genética destes orangotangos e chegou à conclusão que existia uma terceira espécie de orangotango: a Pongo tapanuliensis e que também vive na ilha de Samatra. “É muito entusiasmante descobrir um grande primata no século XXI”, comentava na altura Michael Krützen, professor de antropologia evolutiva e genómica na Universidade de Zurique (Suíça) e um dos autores desse trabalho.
As análises genéticas sugeriram ainda que as duas primeiras espécies de orangotangos se separaram há cerca de 674 mil anos e que esta última terá divergido há cerca de 3,38 milhões de anos. Mas a Pongo tapanuliensis traz com ela más notícias: já está em perigo de extinção. Estima-se que existam por volta de 800 orangotangos desta espécie numa área fragmentada de mil quilómetros quadrados.
No ponto mais profundo do oceano
Foi através de armadilhas de peixes pelágicos que se conseguiu capturar o peixe da espécie Pseudoliparis swirei no ponto mais profundo do oceano: a fossa das Marianas, no Oeste do oceano Pacífico. Esta espécie tem 11 centímetros de comprimento, pertence à família de peixes Liparidae – que vivem maioritariamente nas águas profundas e frias – e os seus exemplares foram recolhidos entre os 6900 e os 7900 metros de profundidade. Os cientistas também têm registos de um peixe a mais de oito mil metros, mas, como não o conseguiram capturar, não têm a certeza se pertence à mesma espécie.
Planta que não precisa de sol
Há uma nova espécie de planta no Japão chamada Sciaphila sugimotoi que não precisa de capturar a luz do Sol para se alimentar. É uma planta heterotrófica, ou seja, tira a sua alimentação de outros organismos. A Sciaphila sugimotoi vive em simbiose com um fungo e é daí que retira o seu sustento, sem nunca causar danos a esse organismo. Tem cerca de dez centímetros de altura e dá pequenas flores entre Setembro e Outubro. Até agora, encontraram-se 50 plantas, o que faz dela uma espécie classificada como “criticamente em perigo”.
Bactéria formou cabelos de Vénus
Em 2011, o vulcão submarino Tagoro entrou em erupção ao largo das ilhas Canárias, o que aumentou a temperatura do mar, diminuiu a quantidade de oxigénio e libertou grandes quantidades de dióxido de carbono e sulfeto de hidrogénio. Dessa forma, grande parte do ecossistema marinho foi exterminada. Agora, conhecem-se os colonizadores dessa nova área. Um deles é a bactéria Thiolava veneris. Ela produz estruturas que se estendem por dois mil metros quadrados ao longo de um cone vulcânico recentemente formado a 130 metros de profundidade. Estas estruturas assemelham-se a um manto branco e são já designadas por “cabelos da deusa Vénus”. Os cientistas indicam ainda que esta bactéria tem características metabólicas únicas, o que lhe permite colonizar o leito marinho recém-formado.
Um marsupial das árvores
Em Queensland, na Austrália, um grupo de cientistas encontrou fósseis de uma espécie de leão-marsupial até então desconhecida, a Wakaleo schouteni. Há cerca de 23 milhões de anos, este leão-marsupial percorria as florestas em busca de presas. Pesava cerca de 23 quilos, era omnívoro e passava a vida a subir às árvores. A outra espécie de leão-marsupial chama-se Wakaleo pitikantensis, foi descoberta em 1961 e seria mais pequena do que o Wakaleo schouteni. “Com base nas suas investigações, os cientistas pensam que as duas espécies de leões-marsupiais viveram no final do Oligoceno há 25 milhões de anos”, frisa o comunicado.
Na escuridão da gruta
Descoberta numa gruta da China, a espécie de escaravelho Xuedytes bellus tem cerca de nove milímetros e uma cabeça e protórax bem alongados. “Esta nova espécie é um contributo espectacular para a fauna”, refere-se ainda no comunicado. Por viver num ambiente de constante escuridão, este tipo de insectos pode ficar assim com um corpo mais alongado, perder as asas de voo, os olhos ou a pigmentação.