100 anos para um novo planeta

Em termos geológicos, não somos senão uma infinitésima fracção do tempo quando comparados com outros que nos antecederam, das trilobites aos dinossauros

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Tim Peake/NASA/Reuters

Isaac Asimov, numas das suas muitas histórias, contou-nos sobre como, um dia, a humanidade descobriu as viagens no tempo. Maravilhados, desenvolvidos, inteligentes e exponencialmente benévolos, os humanos dedicaram-se desde logo a viajar de era em era de modo a eliminar todas as grandes catástrofes, todas as grandes guerras, todos os grandes sofrimentos da história, uniformizando o tempo e o espaço e criando a felicidade eterna, desde sempre, para sempre.

No entanto, conta-nos Asimov, o fim das grandes catástrofes levou ao não desenvolvimento da tecnologia e ciência procedentes. Eternamente felizes, os humanos assistiram ao deslizar dos milénios e ao definhar do Sol. Chegada a altura de fazer as malas e partir para outros planetas, foi com grande surpresa que a humanidade descobriu estarem estes já ocupados. Inevitavelmente sós e entregues a si mesmos, os humanos não tiveram outra opção senão assistir à sua própria extinção, como qualquer outra espécie animal, e da humanidade não mais rezou a história.

Em tempos mais recentes já Carl Sagan alertava para a efemeridade do tempo e das civilizações, sublinhando a urgência de entrar em contacto com outras inteligências se queremos sobreviver no tempo e no espaço, antes que as mesmas se extingam, pois este é o nosso tempo, esta é a nossa oportunidade, como pequenas luzes numa árvore de Natal, acesas durante uma fracção de segundo e com uma fracção de segundo apenas nas mãos para alcançar esta ponte e projectar a humanidade para a eternidade: a vida ou a morte.

Em termos geológicos, não somos senão uma infinitésima fracção do tempo quando comparados com outros que nos antecederam, das trilobites aos dinossauros. E se eles foram os reis e senhores do seu tempo, nós pouco mais somos do que o pó dos tempos modernos. E, porém, achamo-nos donos e senhores do Universo, deste Universo, um mero grão de areia à deriva no espaço mas, ao mesmo tempo, o único grão de areia capaz de albergar vida, criar vida, fomentar vida, um oásis num deserto espacial onde nada mais sobrevive, nada mais resiste, anos-luz em redor e até prova em contrário.

No pouco tempo dedicado à nossa existência, temos sido suficientemente eficientes a explorar todos os recursos da Terra, como se a Terra fosse nossa por direito divino, como se nós não fôssemos parte intrínseca, achando-nos invulneráveis, inférteis, imortais, numa adolescência contínua, num sonho constante do qual tardamos em acordar.

Stephen Hawking partiu há duas semanas para se juntar aos seus predecessores no Olimpo da ciência, Galileu, Newton, Einstein, Sagan. De acordo com Hawking, a humanidade tem 100 anos, apenas 100 anos, um nanossegundo à escala geológica, para encontrar um novo lar, água, terra, oxigénio. Hawking partiu há duas semanas. Restam-nos 99 anos e 50 semanas, and counting...

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