No universo da literatura ciberpunk, que proliferou nos anos oitenta, falava-se de um futuro caracterizado pela velocidade de comunicação em sociedades extremamente tecnológicas. Nestes mundos, que outrora pareciam ser pura ficção científica, a linha entre o real e o virtual era ténue e facilmente ultrapassável.
Hoje a tecnologia funciona como uma espécie de continuidade do nosso corpo que nos ajuda a lutar contra a tirania da geografia. Nas redes sociais é possível comunicarmos com alguém do outro lado do mundo de forma quase instantânea e com o Google Maps temos acesso a vistas panorâmicas das ruas de 38 países sem precisarmos de sair de casa. As noções de espaço e de tempo começam a moldar-se às vontades dos novos tempos (e às nossas).
No site Visual Economics lê-se mesmo que se o Facebook fosse um país seria o terceiro país mais populoso do mundo. A comparação da rede social a um país não é um acaso. Quantas vezes usamos a expressão “estou no Facebook” ou “vou ao Facebook” como se se tratasse de um lugar físico? Porque apesar de a Internet ser um mundo para além do físico a fronteira entre o dentro e o fora dos ecrãs está-se a tornar confusa.
Somos como emigrantes, acabados de chegar a um novo país, cuja língua ainda mistura termos da língua materna e da língua estrangeira. Ainda conhecemos o velho mundo com geografia e geologia mas já o começamos a misturar com este novo mundo virtual cheio de promessas. O mundo físico não resiste a se adaptar à imagem do digital.
Para o bem e para o mal fica cada vez mais difícil vivermos fora da sombra deste novo mundo geográfico que nos imerge e que encheria de orgulho os escritores ciberpunks.