Quando o monge beneditino francês Dom Pierre Pérignon abriu o precedente da cortiça como vedante para recipiente para vinhos espumosos, em 1680, com certeza não imaginou que este material, um dia, serviria para apanhar ondas. Mas aconteceu.
A AHUA dedica-se à criação, produção e venda de alaias (finas pranchas) para o surf, e pranchas de mão (ou handplanes) para o bodysurf. Pôs de lado a nobre rolha e ao mar salgado somou uma handplane de cortiça. Este material — cuja produção mundial é 55% lusa —, além de tornar o acessório inovador, é natural, leve, flutuante e “ecofriendly”. Através da união de “dois projectos de vida, o surf e a arquitectura”, Nuno Mesquita criou esta prancha e juntou-lhe uma fivela adaptável.
Este exclusivo AHUA, que “pela frescura do projecto” fez valer uma menção honrosa a Nuno Mesquita e Ana Correia no concurso nacional Poliempreende 8, foi lançado dia 21 de Março, junto com os restantes produtos que a marca assina.
O prémio ganho foi investido em ferramentas, matéria-prima, patentes e na criação de uma loja online. Trouxe também ao projecto “consistência e moral". "Pois é uma garantia que há outras pessoas que acreditam em nós”, confessou ao P3 o arquitecto, não tirando mérito à garagem do seu pai, cujas ferramentas são referências de uma vida, nem “às relações custo zero” que eliminaram barreiras.
Faltou algum poder financeiro para a empresa lançar-se no mercado. A solução: através de um site de crowdfunding, o Massivemov, apresentar o projecto e angariar donativos, para a encomenda das primeiras alaias e pranchas de mão, até ao dia da sua apresentação. Porquê assim? Porque “se enquadra nos valores AHUA e no modelo de negócio desenvolvido”, explica Ana Correia na apresentação do projecto.
Volta ao mundo na mochila de Luís Simões
Luís Simões não vai só na sua World Sketching Tour. Leva consigo um modelo personalizado desta handplane, desenhado pelo amigo Nuno, que se diz apaixonado pela ideia. ”Fazia todo o sentido oferecer-lhe uma prancha símbolo disso. Assim leva um pouco da nossa cultura com ele”, explicou.
O viajante falou sobre esta parceria: “Admiro a capacidade de, num momento difícil como o que se vive, virarem-se para os recursos portugueses”. Mas levar consigo esta handplane é, também, satisfazer um prazer pessoal. "É leve, pequena e dá-me liberdade. Assim defino o surf e a minha ligação com o mar. Por tudo isso e por me custar deixar em Lisboa a minha prancha, fazia sentido arranjar espaço para a levar nem que para isso tivesse que abdicar de não levar umas calças!”. Também assim chegará este produto 100% nacional aos quatro cantos do mundo, impulsionado pela força do empreendedorismo português.