Esta greve geral cruza-se com duas gerações: os jovens que ingressam no mercado de trabalho, onde se deparam com a falta de alternativas e de perspectivas para o futuro; e os mais velhos que já trabalham há anos e que assistem a uma alteração nas regras laborais, que se traduzem numa perda de regalias e numa insegurança em relação ao futuro.
Vivemos em tempos de insegurança, onde o emprego para toda a vida acabou, e vivemos num mundo globalizado, no qual as empresas são voláteis e dependentes cada vez mais dos mercados em luta permanente. Actualmente, o valor humano do trabalhador é traduzido em números e são esses que determinam a continuidade no mercado de trabalho.
Se, por um lado, temos gerações que floresceram de movimentos pós-25 de Abril e defensores do sindicalismo; por outro, temos jovens que nasceram em tempos de liberdade e que pouco interesse têm em relação aos movimentos sindicais e em relação às alterações na legislação e no mercado laboral. Culpa de quem?
As notícias não têm sido positivas: alterações de fundo à legislação laboral e menor segurança do trabalhador; alteração às regras e benefícios do subsídio de desemprego; subida da taxa de desemprego para 14,8% - a terceira maior em toda a União Europeia; sucessiva subida de preços de combustíveis, energia, transportes; estagnação de salários por motivos da crise económica; sucessivos aumentos de impostos directos ou indirectos.
São muitos os motivos que muitos portugueses têm para protestar, motivados pelo desespero e pelo estrangulamento económico em que vivem. Aos que se sentem injustiçados seja dada essa oportunidade de manifestarem o seu desagrado; aos que querem fazer deste um dia normal de trabalho (porque um dia de salário a menos no final do mês faz muita diferença) não lhes seja colocado qualquer entrave.
Ambos merecem respeito pela posição que tomam porque são trabalhadores e é sobre estes que recaem todos os sacrifícios provocados pela crise. É certo que a greve não irá alterar as intenções de um Governo maioritário, que facilmente tem aprovação das propostas e alterações que deseja. Por esta razão, o impacto e o sucesso pode ser relativo – no dia seguinte tudo continua como antes -, mas ao menos que sirva de desabafo e protesto e que seja de consciência.
Fazer por fazer não tem sentido. Fazer contra o Estado que é responsável pelo agravamento da crise, das dificuldades dos trabalhadores e responsável pelo estrangulamento das empresas é aceitável.