Ocorreu-me que esta coisa de partilhar com os outros as nossas ideias não é de agora, quer dizer, ainda não sabíamos escrever e já queríamos mostrar aos outros como éramos espectaculares a caçar bisontes e, numa associação de ideias imediata e sem fundamentação, começa a parecer-me óbvio que os desenhos das cavernas tenham sido feitos por mulheres, porque são as mulheres quem mais gostam de partilhar, certo?
Errado, diz-me o Google, quando lhe pergunto se há mais blogues femininos ou masculinos, ao apresentar-me umas estatísticas que dizem que um quinto dos bloggers (blogueres? Blogueiros?) são homens. É por isso que eu digo que há um mundo antes e outro depois do Google – eu sei que para muita gente isto é um choque, mas já existiu um mundo sem Google. Era um mundo muito menos redondo, é certo, e com muitos mais telefones fixos, fax e telex, mas não deixava de ser o mundo.
O que nunca existiu foi um mundo sem pessoas com vontade de partilhar. Aliás, eu estou convencida que o mundo se divide em dois tipos de pessoas: as que têm de partilhar as suas ideias e as que não têm. É assim desde sempre, ou desde que vivíamos nas cavernas pelo menos, seja com as coisas mais importantes como, sei lá, a crença de Copérnico no heliocentrismo, ou com as mais prosaicas como a descrição do filósofo indiano, Vatsyayana, sobre como devem duas pessoas heterossexuais usar o corpo para obter prazer, no Kama Sutra.
Também é possível que tenham existido sempre pessoas que gostam de catalogar outras pessoas dividindo-as em dois, ou mais, grupos distintos. Por exemplo, há quem diga que o mundo se divide entre pessoas que querem ter coisas e pessoas que preferem ter experiências; ou quem defenda que há os enquadrados de um lado e os estranhos do outro e, claro, os que acreditam que no mundo existem as pessoas que vão para o céu e as que estão condenadas ao inferno (o purgatório é, digamos, a sala de espera para um desses sítios).
Mas estou a desviar-me do assunto. O que eu quero dizer é que hoje em dia existem os meios para que essa partilha, a das nossas vivências, seja levada ao extremo e por isso é natural que se encontre de tudo nesse café que é a blogoesfera. Há quem ache muito relevante dizer ao mundo que está gorda, ou quem queira explicar como poupar dinheiro com vales de desconto, por exemplo, mas neste momento não consigo desviar o olhar da mesa do canto, onde está um grupo de pessoas a contar o que salvariam de casa se esta estivesse a arder.
Eu acho que além das pessoas não salvava nada, até porque se a casa estivesse a arder o mais provável é que tenha sido eu a pegar-lhe fogo, mas se alguém quiser partilhar as suas coisas valiosas é enviar a foto e legendas para a tal mesa.