Ao volante de um camião, Putin inaugura ponte para a Crimeia anexada
União Europeia e Estados Unidos alinham com a Ucrânia, acusando o Kremlin de violar o direito internacional e de limitar a capacidade de Kiev fazer uso das suas águas. Ponte rodo e ferroviária é a maior do género na Europa. Custou cerca de 3.000 milhões de euros.
Ao volante de um grande e cor-de-laranja camião Kamaz, Vladimir Putin atravessa, às buzinadelas, os 19 quilómetros da recém-inaugurada ponte que liga a Rússia ao território anexado da Crimeia. Aconteceu assim, nesta terça-feira, a travessia inaugural da ponte construída por Moscovo para ligar a federação à península anexada desde 2014. A construção é mais um desafio a Kiev, que a considerou um sinal de “desprezo pelo direito internacional”, e à Europa, que condena a anexação da região. Mas o Presidente russo diz ter “a certeza que as pessoas vão adorar”.
A construção de uma ponte que ligasse a anexada península do Mar Negro à Rússia continental sem passar por território ucraniano era uma das promessas de Putin. Pensada especialmente para o transporte de mercadorias, a ponte rodo e ferroviária começou a ser construída em 2016 e custou cerca de 3.000 milhões de euros, fazendo deste um projecto passível de ser comparado, em termos de investimento, aos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014 ou ao Campeonato do Mundo de Futebol deste ano.
Putin espera que por ali passem 14 milhões de pessoas por ano, aproximando a Crimeia e a Rússia e permitindo à primeira crescer economicamente, cita o Telegraph. Constituída por quatro faixas para automóveis e duas vias férreas (cujas obras deverão estar concluídas no final do próximo ano), esta é a maior ponte rodo e ferroviária da Europa.
Atrás do Presidente russo, seguia cerca de uma dezena de outros veículos usados nas obras e vários trabalhadores. Foi a eles que o presidente russo agradeceu o “talento, o projecto e o milagre” concretizado.
Já em Kiev, o tom foi de reprovação. O Presidente ucraniano considerou a construção “ilegal” e a “última prova de que do desprezo do Kremlin pelo direito internacional”. Petro Poroshenko, citado pela Reuters, considerou “particularmente cínico que a inauguração aconteça nas vésperas do último aniversário da deportação do povo tártaro da Crimeia pelo regime de Estaline”. Em Maio de 1944, mais de 190 mil tártaros foram forçados a sair da península por ordem do Governo russo, numa acção de limpeza étnica que muitos activistas e historiadores consideram um genocídio.
Também a França condenou a construção desta ponte sobre o estreito de Kerch, por considerar que esta priva a Ucrânia do pleno acesso às suas águas territoriais reconhecidas internacionalmente, disse o porta-voz do ministro dos Negócios Estrangeiros francês, citado pela Reuters.
"A construção da ponte visa prosseguir a integração forçada da península anexada ilegalmente pela Rússia e o seu isolamento da Ucrânia, de que continua a fazer parte", frisou por sua vez uma porta-voz do serviço de acção externa da União Europeia, sublinhando que esta estrutura vai limitar "a passagem dos navios pelo estreito de Kerch até aos portos ucranianos no Mar de Azov".
A porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos foi no mesmo sentido e condenou a construção, que “relembra a constante disposição russa para violar o direito internacional”.
Navalni preso por um mês
Entretanto, e na frente interna, o principal opositor de Putin, Alexei Navalni, foi condenado na terça-feira a uma pena de 30 dias de prisão devido ao seu papel na organização dos protestos contra o presidente russo, a 5 de Maio, nas vésperas da tomada de posse para o seu quarto mandato presidencial. Nessa altura, cerca de 1.600 activistas foram detidos na sequência de manifestações em várias cidades da Rússia, principalmente no Extremo Oriente e na Sibéria.