"Não restam dúvidas" de que o acordo nuclear é para manter, dizem UE e Irão

Alta representante da UE para a política externa juntou os ministros dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, França e Reino Unido do Irão em Bruxelas, para dar conta da resposta europeia às sanções que Trump vai impor.

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Mohammad Javad Zarif descreveu as conversações como "construtivas" Reuters/POOL

Federica Mogherini, a alta representante para a Politica Externa da União Europeia,  recebeu esta terça-feira em Bruxelas os ministros dos Negócios Estrangeiros do Irão e também da Alemanha, França e Reino Unido, e não foi preciso esperar pelo fim da reunião para saber qual a principal conclusão. “Não ficará a mínima dúvida de que enquanto o Irão continuar a cumprir as suas obrigações, a União Europeia continuará a respeitar os termos do acordo nuclear", abandonado pelos EUA, antecipou um dirigente europeu.

Desde que o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou a sua decisão de abandonar o Plano Abrangente de Acção Conjunta (JCPOA na sigla em inglês) para a monitorização do programa nuclear iraniano, os líderes europeus têm repetido a mesma mensagem: o acordo está a produzir os resultados esperados e portanto é para ser mantido pelos restantes signatários — que não têm a mínima intenção de replicar a posição norte-americana e contribuir para aumentar a incerteza e instabilidade na volátil região do Médio Oriente.

A reunião em Bruxelas serviu para reafirmar a posição de unidade em defesa da preservação do acordo nuclear com o Irão e para debater as medidas que a UE está preparada a assumir para preservar os interesses económicos do bloco face à ameaça de novas sanções económicas dos EUA - que esta terça-feira já sancionou o governador do Banco Central iraniano.

O Governo de Teerão precisa de ter a garantia da unidade dos 28 com o compromisso assumido para permanecer no acordo. Segundo o ministro iraniano, Mohammad Javad Zarif, nesse sentido a reunião “foi muito construtiva”.

Um responsável europeu envolvido nas conversações explicou que há várias opções, e diferentes instrumentos para preservar as actuais relações financeiras e comerciais entre entidades europeias e iranianas e mitigar o risco de sanções secundárias. Mas não existe “uma solução mágica”. Tanto poderão ser adoptadas medidas ao nível europeu como nacional, em função dos efeitos extra-territoriais das sanções dos EUA. “Estamos a avaliar todas as modalidades. Não é caso para pânico, não é preciso acelerar os trabalhos, que seguem em velocidade de cruzeiro.”

As palavras da UE têm sido deliberadas, no sentido de acalmar as multinacionais europeias confrontadas com a perspectiva de prejuízos avultados por causa da retaliação norte-americana, e para tentar apaziguar a tensão política após as últimas decisões do Presidente norte-americano. No entanto, é inegável o impacto negativo  — e disruptivo — que as novas políticas da Administração Trump estão a ter no bloco, tanto na vertente económica (financeira e comercial) como em termos diplomáticos e políticos.

De tal maneira que o debate dos chefes de Estado e de governo que esta quarta-feira se reúnem em Sófia, na Bulgária, num jantar de trabalho em formato informal antes da cimeira entre a UE e os países dos Balcãs Ocidentais, será quase inteiramente dedicado à “avaliação dos últimos desenvolvimentos após os anúncios de Trump relativos ao comércio e ao Irão” (a excepção é um ponto sobre a agenda para a inovação e o digital, um tópico suscitado pela França, Alemanha e Finlândia).

Apesar de haver duas questões concretas em cima da mesa — o acordo do Irão e as novas taxas alfandegárias para produtos de aço e alumínio —, a discussão poderá assumir um carácter mais “filosófico”, com os líderes europeus a trocar ideias sobre como lidar (colectivamente ou individualmente) com uma Casa Branca tão insular e imprevisível.

Nesse aspecto, a chanceler alemã, Angela Merkel, a primeira-ministra britânica, Theresa May, e o Presidente francês, Emmanuel Macron, poderão falar sobre a sua experiência pessoal, quando fizerem o ponto da situação do caso que envolve o nuclear iraniano. De resto, na sua habitual carta de convite, o presidente do Conselho, Donald Tusk, sugeriu ainda que os líderes aproveitassem para reflectir sobre os “dramáticos acontecimentos em Gaza”, que segundo a mesma fonte europeia podem ser considerados como "mais um elemento das consequências das decisões tomadas por Trump".

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