Liga e Cinco Estrelas adiam acordo de governo para segunda-feira

Matteo Salvini e Luigi Di Maio estão obrigados a entenderem-se sob pena de pagarem um alto preço em eleições antecipadas.

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Mattarella concordou em adiar o anúncio do nome do primeiro-ministro Alessandro Bianchi/Reuters

A assinatura do acordo político entre a Liga e o Movimento 5 Estrelas foi adiado para segunda-feira. Os seus líderes, Matteo Salvini e Luigi Di Maio, precisam de mais três dias para escolher o nome do primeiro-ministro, distribuir os ministérios e acordarem no programa de governo. O Presidente Sergio Mattarella concordou com o adiamento. Desta vez, os dois partidos estão obrigados a entenderem-se, sob pena de pagarem um alto preço se falharem e provocarem eleições antecipadas. Joga-se já ao “totoministros”. Mesmo assim, um negociador diz prudentemente ao La Repubblica: “Mais dois ou três dias de negociação e assina-se ou vai-se a votos.”

Emergem também as inevitáveis interrogações político-económicas. Como vai o novo governo pagar as promessas eleitorais numa difícil situação financeira? Para muitos observadores, “o programa não é exequível”. E qual vai ser a sua política externa? Mantém a Itália o seu alinhamento pró-europeu ou será tentada a aproximar-se do soberanismo do grupo de Visegrado, liderado pela Hungria e pela Polónia?

Mattarella fez um aviso à navegação na quarta-feira, durante uma conferência em Fiesole. “Pensar avançar sozinhos sem a Europa é uma ilusão ou, pior, é enganar conscientemente a opinião pública.” É um recado aos soberanistas dos dois partidos que se preparam para governar. “Todos sabem que nenhum dos grandes desafios, aos quais o nosso continente está hoje exposto, pode ser afrontado por qualquer membro da União isoladamente. (...) O soberanismo é sedutor mas impraticável.” Apelou à solidariedade europeia, de cuja falta a Itália se queixa.

A imprensa aponta já as grandes linhas do “contrato de governo”, uma combinação dos programas eleitorais e não algo que já tenha sido efectivamente negociado: rendimento de cidadania, abaixamento da idade de reforma de 65 para 60 anos, reforma fiscal, combate à imigração clandestina e expulsão dos ilegais (a Liga falou em expulsar 600 mil clandestinos), pacto de segurança e endurecimento das leis.

Quem será o primeiro-ministro? Estando à partida excluídos os líderes Salvini e Di Maio, especulava-se nesta quinta-feira sobre três nomes. O primeiro era Giancarlo Giorgetti, vice-presidente da Liga e estratego de Salvini. É ele quem tem estado por trás das negociações mais delicadas. Tem o perfil de “liguista moderado” e diplomático mas o inconveniente de ser dirigente da Liga.

Outros dois nomes apontados são o economista Enrico Giovannini e a advogada Giulia Bongiorno. O primeiro é um independente que foi ministro do Trabalho no governo de Enrico Letta (PD) e que hoje é considerado próximo do M5S. A segunda é uma senadora independente pela Liga. Mas, repita-se, são apenas nomes de que se fala. Quanto aos líderes nada se sabe. Poderão ficar fora do ministério. Mas também se aposta que Salvini poderá ficar com o Interior e Di Maio com os Negócios Estrangeiros.

O sucessor de Berlusconi?

Uma primeira nota diz respeito ao M5S e a Berlusconi. Este, enfraquecido e desgastado, foi convencido, pelos seus próprios conselheiros, a ficar fora da nova maioria para abrir caminho ao governo de Salvini e Di Maio. Se sofreu um desaire no plano político, obteve em troca uma garantia sobre o principal: as suas empresas. Não é uma notícia oficial mas toda a gente sabe. “Nas empresas de Berlusconi não se toca”, resumia nesta quinta-feira o semanário L’Espresso. Anuncia-se que o ministério das Telecomunicações, o que mais interessa ao Cavaliere, deverá caber à Liga.

“Uma das principais razões que levaram ao nascimento do Movimento 5 Estrelas foi a própria contestação da timidez — no limite da cumplicidade — com que a representação partidária e parlamentar do centro-esquerda afrontava a questão Berlusconi,” lembra o semanário.

Outra constatação é a progressiva unificação do eleitorado da direita sob a hegemonia de Matteo Salvini. Observa o politólogo Giovanni Orsina que esta mutação se processa algo naturalmente. Explica que, ao contrário do eleitorado do centro-esquerda, “o eleitorado do centro-direita é homogéneo, no sentido em que as categorias que votaram Salvini são as mesmas que tradicionalmente votavam Berlusconi”. E o que Salvini parece dizer aos eleitores é que lhes garante “o seu espaço existencial”.

De resto, é patente uma viragem à direita na sociedade italiana. Isto constituiria uma resposta “àquilo que observadores e politólogos há anos estavam a procurar: o sucessor de Berlusconi”.

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