“Chega, basta. A saúde está à rasca!”

Concentração em frente ao Ministério da Saúde marcou esta terça-feira o arranque de três dias de greve nacional. A paralisação termina às 23h59 de quinta-feira.

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Nuno Ferreira Santos
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Cantaram, gritaram palavras de ordem, deixaram recados ao ministro da Saúde e disseram estar em luta pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS) e pelos utentes numa concentração em frente ao Ministério da Saúde, que marcou esta terça-feira o arranque de três dias de greve nacional dos médicos. A paralisação termina às 23h59 de quinta-feira. Os sindicatos estimam uma adesão superior aos 80% nos blocos operatórios e nos cuidados de saúde primários.

“Chega, basta. A saúde está à rasca!” gritavam cerca de duas centenas de médicos que se concentraram esta tarde em frente ao ministério, em Lisboa. “Esta é uma luta que é de facto pelos utentes”, sustentou João Proença, presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fnam), sindicato que organizou a manifestação.

A apoiar a concentração esteve o movimento SNS in Black, que fez uma adaptação da canção popular da resistência italiana Bella Ciao de propósito para este protesto: “Oh Adalberto, só conversa/Berto chau, Berto chau, Berto chau, chau, chau / oh Adalberto, não conhece/não conhece o SNS”.

“Apoiamos todas as formas de luta pela dignificação do SNS, dos profissionais e dos utentes. Esta é uma luta por um SNS mais forte, com capacidade de resistir a este processo de destruição encapotada”, disse o médico pneumologista Filipe Froes, um dos criadores do movimento SNS in Black. Os cerca de 200 crachás pretos, símbolo do movimento, não chegaram para os pedidos.

Lúcia Nascimento, de 32 anos, ficou com um dos últimos. É especialista de radiologia desde o ano passado. “Concordo com o manifesto dos sindicatos e vim aqui demonstrar o meu apoio. Estou a iniciar o meu percurso e quero participar na melhoria dele”, contou.

A Associação Nacional dos Médicos de Família também apoiou a greve. Para o presidente Rui Nogueira, os médicos estão cansados das “sucessivas promessas e adiamentos” e cansados “destas políticas e deste ministro”. “O passo seguinte agora [depois da greve que decorre entre esta terça-feira e quinta-feira] será substituir o ministro da Saúde. Adalberto Campos Fernandes está esgotado", afirmou à agência Lusa Rui Nogueira.

Contra a falta de formação

“Se nada mudar, teremos dentro de três anos 4000 médicos sem formação. Serão 10% dos médicos, é muita gente. Este governo colocou barreiras inacreditáveis à formação”, apontou Estêvão Soares dos Santos, presidente da Associação de Médicos pela Formação Especializada, referindo-se às recentes alterações das regras do internato médico.

Palavras reforçadas por Afonso Moreira, do movimento Médicos Indiferenciados, Não!. “Este ano prevê-se que possam chegar a 800 os médicos sem vaga para formação especializada. Não podemos admitir que continuem a aumentar ano após ano. Se o ministro continuar o actual caminho, ficará na história como o médico que matou o SNS”, afirmou o jovem que está agora no primeiro ano da especialidade de saúde pública.

Arrancaram palmas e mais palavras de ordem como “não à indiferenciação, queremos formação”, “Adalberto, Centeno, o SNS não se rende”, “a saúde é um direito, sem ela nada feito” e “o público é de todos, a privada é só de alguns”.

Médica há 30 anos, Maria de Fátima Camacho conta que se juntou à concentração “só por causa do SNS”. “Estou aqui pelo SNS que está a ser destruído. Estou preocupada com os médicos novos sem formação, com o estrangulamento que está a acontecer, com as parcerias com privados”, disse.

Numa nota enviada ao final do dia, os dois sindicatos que marcaram a greve, Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e Fnam saudaram "a participação dos médicos neste primeiro dia de greve, em protesto contra esta política de Saúde, com uma adesão próxima dos 90% nos blocos operatórios a nível nacional e de 80% nos cuidados primários de saúde e consultas externas". Na mensagem agradecem também "a profunda compreensão dos utentes por esta greve".

Audição urgente

Entre os manifestantes estiveram também os deputados Paula Santos, do PCP, e Moisés Ferreira, do Bloco de Esquerda, partido que entregou esta quinta-feira um pedido de audição urgente do ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes.

“O que está a acontecer aqui e nos próximos dois dias de greve é em defesa dos direitos dos utentes. Este ano já tivemos greves dos assistentes operacionais, enfermeiros, agora dos médicos e vamos ter uma greve dos técnicos de diagnóstico e terapêutica por uma razão simples: os profissionais não estão a ser dignificados nem está a existir o investimento que o SNS precisa”, disse Moisés Ferreira.

Para o deputado, “não basta o ministro da Saúde dizer que os profissionais têm razão e não fazer nada”. “A decisão depende dele próprio e do governo a que pertence e não está a querer fazê-lo”, acrescentou, lembrando que o Governo “preferiu gastar 800 milhões de euros em 0,4 pontos percentuais do défice em vez de investir no SNS”.

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