Só convidados vão ouvir Barack Obama falar de alterações climáticas no Porto

Climate Change Leardship Porto Summit 2018 é o nome da conferência sobre alterações climáticas que vai juntar no Porto o ex-Presidente dos EUA, uma ex-directora geral da UNESCO e o presidente de uma fundação norte-americana.

Foto
Barack Obama Yuri Gripas/Reuters

A organização do Climate Change Leardship Porto Summit 2018 confirmou esta segunda-feira a presença do ex-Presidente dos EUA, Barack Obama, no palco do Coliseu do Porto a 6 de Julho. O debate sobre alterações climáticas, organizado por empresas ligadas ao sector vinícola com outras entidades públicas e privadas, será um evento “fechado” (reservado apenas a convidados) mas promete dar à cidade e à região uma visibilidade a nível mundial. Além de Barack Obama, a conferência terá ainda como oradores Mohan Munasinghe, ex-vice-presidente do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas da ONU (IPCC), Irina Bokova, ex-directora geral da UNESCO e Juan Verde, presidente da Advanced Leadership Foundation, com sede na cidade de Washington, nos EUA.

Não perguntem o que é que o Porto vai fazer para receber Barack Obama e quanto é que isso vai custar, mas, em vez disso, imaginem o que é que o ex-Presidente norte-americano poderá fazer pela cidade e pelo país. Esta é a mensagem da organização da Climate Change Leardship Porto Summit 2018 que, esta segunda-feira, organizou uma conferência de imprensa para falar sobre o programa da conferência, que vai contar com a presença de Barack Obama. O debate sobre alterações climáticas que se realiza a 6 de Julho no Coliseu, à porta fechada e reservado apenas a convidados, será o pontapé de saída para um “movimento” que quer dar à cidade e à região do Porto uma visibilidade e notoriedade mundial nesta área, reclamaram os vários representantes da organização.

Sobre a participação de Barack Obama, “cabeça de cartaz” do evento, que esperam ser suficiente para captar a atenção de todo o mundo, a organização avisou que há regras muito restritas a cumprir. Barack Obama não quer partilhar o palco com políticos e estará apenas acompanhado de Juan Verde numa “conversa” que deverá basear-se em cerca de “20 ou 25” questões previamente aprovadas pelo seu gabinete. Não será permitido gravar a intervenção. Não haverá nenhuma conferência de imprensa ou disponibilidade para agendar entrevistas com jornalistas. Na plateia, estarão cerca de três mil pessoas (com o Coliseu lotado) convidadas pela organização ou por patrocinadores, uma vez que não há bilhetes à venda para a Climate Change Leardship Porto Summit 2018.

Barack Obama é indiscutivelmente o orador principal da conferência. Mas, no Coliseu do Porto também estará Mohan Munasinghe, que como vice-presidente do IPCC, partilhou com Al Gore o Prémio Nobel da Paz em 2007 e que deverá falar sobre o que está a ser feito nas Nações Unidas nesta área. Juan Verde, “especialista em economia verde”, deverá falar sobre a forma de conjugar soluções “amigas” do ambiente com opções economicamente viáveis. Irina Bokova deverá usar o exemplo do Porto para referir algumas formas de proteger o património das alterações climáticas.

“Não se trata apenas de um evento mas do início de um movimento”, referiu mais do que uma vez Adrian Bridge, da Taylor’s Port, sentado no centro da mesa da organização. Foi também o CEO da empresa de vinhos com 325 anos de história que referiu não ser capaz de responder à questão colocada pelos jornalistas sobre os custos desta iniciativa. “São muitas contas para fazer e não temos um número exacto”, justificou, sublinhando que o mais importante será a visibilidade e o retorno que esta iniciativa poderá representar para o Porto. Adrian Bridge adiantou que, além da conferência, a 6 de Julho será lançado o Protocolo do Porto, um compromisso para o futuro que será aberto a empresas do sector do vinho e de outros sectores. Outro capítulo deste “movimento” cumpre-se em Março de 2019 com uma conferência, também no Porto, especialmente dirigida ao impacto das alterações climáticas no sector vinícola e onde serão discutidas soluções para lidar com estas mudanças.

A preocupação com um futuro sustentável assente em soluções que respondam ao impacto das alterações climáticas terá levado o sector dos vinhos a posicionar-se como um dos principais motores da organização da Climate Change Leardship Porto Summit 2018, mas a iniciativa depressa se transformou num esforço conjunto de outras entidades, públicas e privadas. Assim, além da Taylor’s Porto, na mesa da organização estava também representada a Câmara Municipal do Porto (CMP), o Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), a Associação Comercial do Porto, o American College de Espanha e ainda a Advanced Leadership Foundation, que conseguiu convencer Barack Obama a aceitar o convite para estar no Porto.

O enólogo Frederico Falcão, presidente do IVV, antecipou que o Porto será “notícia mundial” e também quis explicar os motivos que colocaram “o vinho à cabeça” desta conferência e deste “movimento”. “É uma cultura fixadora e com uma importância estrutural na nossa economia”, justificou, sublinhando que Portugal “é um dos grandes actores mundiais no sector”. Um sector que, adiantou, que está a sentir os efeitos das alterações climáticas, seja pela escassez de água, seja pela dificuldade de actualmente fazer vingar algumas castas estabelecidas na terra.

Nuno Botelho, presidente da Associação Comercial do Porto, arriscou uma descrição mais íntima e detalhada sobre o início do “movimento” apoiado no vinho para debater as alterações climáticas e, confessou, que foi entre o prato principal e a sobremesa de um almoço que decorreu há vários meses que esta acção foi combinada. Comentando o possível impacto desta conferência para o Porto, Nuno Botelho aventurou-se ainda numa comparação arrojada: “Se pensarmos no que foi Davos e no que é agora, julgo que não será sobranceria nossa pensar que seremos também importantes.” Ricardo Valente, vereador com o pelouro da Economia, Turismo e Comércio na CMP, adiantou que a conferência que esteve a ser preparada nos últimos oito meses “na mais completa discrição” será “um momento de afirmação da cidade e da região do Porto”.

Na mesa dos organizadores da Climate Change Leardship Porto Summit 2018 estava ainda Pancho Campo, em representação do American College de Espanha. O especialista em organização de eventos – que também tem ligações ao sector dos vinhos, tendo fundado em 2003 a Academia Espanhola do Vinho – foi o elo de ligação para a formação do painel de oradores da conferência. Foi ele que conseguiu garantir a presença de Mohan Munasinghe, Irina Bokova e Juan Verde. No entanto, apesar de Pancho Campo ter sido o intermediário na operação, os créditos pela presença de Barack Obama no Porto foram reivindicados por Jorge Brown, representante da Advanced Leadership Foundation.

Jorge Brown referiu que a sua fundação trabalha regularmente com Barack Obama e que só o facto de o ex-Presidente aceitar o convite para vir ao Porto deve deixar a cidade cheia de orgulho. Afinal, disse, Obama recebe cerca de 30 convites por semana para participar em iniciativas em todo o mundo e aceitou vir ao Porto. Ainda que, admitiu ao PÚBLICO, não tenha sido fácil convencê-lo.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários