INESC TEC cria “software” para ajudar nas cirurgias de reconstrução mamária
Tecnologia funciona como um GPS, dando "indicações precisas da trajectória dos vasos sanguíneos e indicando quais as opções viáveis que o cirurgião tem à sua disposição"
Uma equipa do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC) desenvolveu um software que mapeia e mede automaticamente pequenos vasos sanguíneos, em regiões de difícil análise, auxiliando os médicos nas cirurgias de reconstrução mamária.
Este software, a primeira tecnologia desenvolvida no âmbito do projecto A-VA (Assisted Vascular Analysis), pode melhorar a qualidade da informação que o cirurgião tem à sua disposição antes de iniciar este tipo de cirurgia, que pode durar até 12 horas, explicou à Lusa Daniel Vasconcelos, membro do INESC TEC.
Segundo o promotor do projecto, o planeamento destas intervenções cirúrgicas envolve o estudo prévio da rede vascular da zona a intervir, realizado pela equipa de Radiologia, que analisa, de forma praticamente manual, centenas de imagens geradas durante o AngioTAC (Tomografia Computorizada particularmente dirigida à vascularização arterial). Depois desse estudo, continuou, é emitido um relatório à equipa cirúrgica, que procura descrever a rede vascular através de texto e algumas imagens, um "processo moroso e susceptível ao erro".
A tecnologia desenvolvida pelo INESC TEC, única até à data capaz de medir e mapear automaticamente vasos sanguíneos de pequeno calibre, pode ser utilizada para contornar esses possíveis erros, através de relatórios especializados, que incorporam modelos 3D e as últimas recomendações vigentes na literatura científica. De acordo com Daniel Vasconcelos, o método utilizado actualmente para medir e mapear os vasos sanguíneos é comparável a uma "viagem de carro num dia de intenso nevoeiro, tendo por base as indicações dadas por um amigo". "O software que desenvolvemos é semelhante à evolução que o GPS nos trouxe, fornecendo indicações precisas da trajectória dos vasos sanguíneos e indicando quais as opções viáveis que o cirurgião tem à sua disposição".
O projecto A-VA resultou de um pedido da Fundação Champalimaud, com a qual a equipa do INESC TEC tem vindo a colaborar no desenvolvimento desta tecnologia, que tem já um pedido de patente activo junto do European Patente Office. Embora neste momento o projecto esteja vocacionado para a cirurgia de reconstrução mamária, os responsáveis pretendem criar soluções para outras necessidades clínicas, que têm as redes vasculares no centro do problema.
O A-VA foi distinguido com o segundo lugar na edição na segunda edição de 2017 do Business Ignition Programme (BIP), um projecto financiado pelo Norte 2020, Portugal 2020 e União Europeia, e organizado pela U.Porto Inovação, pelo Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR) e pelo INESC TEC.
Para Daniel Vasconcelos, a grande conquista ocorreu ao longo das 12 semanas do BIP, nas quais procuraram validar a solução "no mundo real", tendo sido "vital" o contacto com radiologistas, cirurgiões, técnicos, e empresas. "Ganhámos uma outra visão do caminho a percorrer, o qual começará já no início de 2018, com a viagem internacional a centros de referência na análise de imagem médica, ganhada como prémio pelo segundo lugar conquistado no BIP", contou o promotor, que foi ainda premiado pelo júri com um MBA na Porto Business School. No projecto participam igualmente os membros do INESC TEC Ricardo Araújo, Hélder Oliveira e Lucas Gurgel.