Em criança, Bernardo Silva costumava construir castelos na areia em frente ao mar. Fazia-os de forma a que continuassem de pé quando a maré subisse — mas nem sempre resistiam. Foi com esta metáfora que o recém-licenciado em Economia pela Nova School of Business and Economics explicou ao P3 o porquê de ter decidido participar na segunda edição do concurso do Gap Year Portugal. “Por vezes, a maré está sempre alta e tentamos reconstruir o castelo, mas não conseguimos”, continuou Bernardo. O Gap Year é “a oportunidade para deixar a maré vazar”, para reconstruir o castelo à vontade. “Quando a maré tiver de subir de novo”, tudo deve estar preparado para a enfrentar.
A ideia de parar por um ano e viajar pelo mundo não é recente. Bernardo já tinha pensado em fazer “algo do género”, por sentir “necessidade de parar um bocado” e sair da intensa “rotina do quotidiano”. “Havia a necessidade de condensar aquilo que fui aprendendo ao longo do tempo, para me tornar mais congruente”, disse. Quando a oportunidade surgiu, não hesitou. A sua proposta foi escolhida entre as 12 candidaturas elegíveis.
Soube da existência da bolsa quando voltou de Roma, depois de um semestre em Itália ao abrigo do programa Erasmus. Era Janeiro e Bernardo tinha até Abril para reunir toda a informação de que precisava: custos de alimentação, viagens, contactar organizações e seleccionar projectos. Decidiu-se pela Ásia “por causa das raízes da cultura asiática, principalmente o taoismo e o budismo”. “Têm uma abordagem muito mais holística sobre a vida e debruçam-se muito mais profundamente sobre as coisas”, defende o recém-licenciado de 21 anos, traçando o perfil dos ocidentais como mais focados “em fazer as coisas e em como elas funcionam”.
Está previsto que saia de Portugal no início de Dezembro. Vai passar por Taiwan, Filipinas, Indonésia, Tailândia e Índia. O plano é ficar cerca de 40 dias em cada destino. Em Taiwan, a ideia é trabalhar numa vila ecológica. Na região de Manila, numa casa de crianças carenciadas e órfãos, ajudando na angariação de fundos para as crianças e o desenvolvimento rural da região. Na Tailândia, o destino será um santuário de animais em Sanklaburi. No final, em Calcutá, Bernardo vai integrar o projecto de um monge que ajuda crianças com dificuldades. Durante os sete meses previstos, Bernardo compromete-se a fazer ioga e meditação, todos os dias, com monges locais.
Foi com a ajuda de uma organização sem fins lucrativos, a Ananda Marga, que Bernardo encontrou os projectos. “Já tinha trabalhado com eles na Covilhã, a minha terra natal”, explicou. Falou com um dos responsáveis da organização, para que ele lhe fornecesse contactos e, a partir daí, “contactos geraram mais contactos” e chegou ao que precisava. Mas não foi fácil. “Tinha um prazo para cumprir e tive de esperar semanas, meses até, pela resposta a emails”, apontou, sublinhando que os projectos são em zonas do interior, onde nem sempre há facilidade em aceder à Internet, por exemplo.
Agora, Bernardo tem pela frente o desafio de “perguntar muitas coisas, fazer desenhos ou apontar direcções”. Nos lugares para onde vai, “há muita gente que não sabe falar inglês”. Mas Bernardo Silva está confiante de que pode aprender com as comunidades.