E esta noite (de sábado para domingo) dormi mais uma hora do que o habitual. Quer isto dizer que quando olhei para o relógio, ainda com o cérebro entorpecido pelo sono e os olhos remelosos (sim, porque ninguém acorda com o ar fresco de quem acabou de sair do banho), vi que ele, o relógio, assinalava 9h. E pensei: que maravilha! É domingo! Posso dormir mais uma horinha. Contudo, o segundo pensamento foi: afinal são 8h! Posso dormir mais duas horas. Hoje é o primeiro dia do horário de Inverno. Dito isto poderia pensar-se que gosto deste horário. Nada mais errado. Esse malnascido horário de inverno apenas tem um aspecto positivo (que, bem vistas as coisasm nem é assim nada de mais): oferecer-me uma hora de sono extra, uma única noite no ano, num dia em que a mim nem me traz grandes benefícios. Não tenho o hábito (ou a necessidade) de me levantar muito cedo ao domingo.
Mas a verdade é que todos os anos tenho de passar por esta alteração horária. Todos os anos acalento, secretamente, a esperança de que seja este o ano em que se decidirá pelo não à mudança para o horário de Inverno mas, invariavelmente, todos os anos, vejo a minha esperança defraudada e a hora mudar: “Quando forem duas… atrase para a uma.” E eis que está dado o passo para que comecem os dias cinzentos, os dias frios, os dias pequeníssimos.
Procurando encontrar uma forma de gostar desta mudança horária, fui tentar perceber quais eram as razões inerentes a essa mudança de hora. Talvez a mudança tivesse uma explicação simpática. E, ao que parece, tudo começou com uma ideia peregrina de Benjamin Franklin, em 1784. Na altura, a ideia surgiu com o intuito de poupar velas. Ainda assim, e pelo que fui lendo por aí, esta ideia apenas voltaria a surgir e seria aplicada em 1916, com o intuito, desta feita, de poupar carvão. A ideia era que não se desperdiçassem horas de luz durante as manhãs. As pessoas acabariam por se levantar mais cedo, aproveitando, assim, melhor o dia. Com o início da Primeira Guerra Mundial, países como a Alemanha e a Grã-Bretanha adoptaram este daylight saving time — como ficou conhecido —, a fim de se poder poupar e economizar tendo em conta o transtorno da guerra. Terminada o conflito, houve quem abandonasse a alteração de horário. O daylight saving time foi retomado por várias nações, em 1939, demonstrando que um mal — a Segunda Guerra Mundial — nunca vem só. Mais uma vez, ao terminar a guerra, houve países que foram abandonando as mudanças de hora no horário de Inverno e no horário de Verão. E, pelo que fui lendo, andou-se assim um pouco ao sabor das ondas, até aos anos 1970, quando o daylight saving time foi uniformizado tendo em conta as preocupações, mais uma vez económicas, que surgiram decorrentes dos obstáculos que os países árabes começaram a colocar na aquisição do precioso “ouro negro”. Pelo que entendi, a ideia foi sempre a de poupar e não de fazer as pessoas mais felizes. No que aos países da União Europeia diz respeito, esta “tradição” mantém-se, até aos dias de hoje, devido a uma directiva datada de 1981, que determina que os seus estados-membros devem entrar na hora de Inverno no último domingo de Outubro e na hora de Verão no último domingo de Março. E assim, de seis em seis meses, acontece-nos uma noite com mais uma hora (horário de Inverno) e uma noite com menos uma hora (horário de Verão). Apesar de já ter passado por isto desde que me conheço por pessoa, ainda não me consegui habituar e muito menos gostar desta mudança horária, sobretudo quando a mudança se faz para o horário de Inverno.
Dou por mim a pensar: será que isto ainda faz sentido? Não poderíamos ficar eternamente na hora de Verão? Será que este horário ajuda a poupar o que quer que seja? Tenho as minhas dúvidas, nos tempos que correm. O que sei é que a hora de Verão é bem mais simpática. Ok, se a mantivéssemos levantávamo-nos às 8h e poderia estar ainda um pouco escuro.
Mas, “assim como assim”, é suposto os dias de Inverno serem escuros e cinzentos. Não me incomodaria muito, penso eu, levantar-me e ainda ver estrelas no céu. Rapidamente o Sol iria levantar e o dia acordar. Agora, o que consegue tirar-me do sério é ver que daqui a mais uns dias serão 17h e já estará praticamente de noite. Os dias são minúsculos. As noites são intermináveis. Quem pode ter vontade de praticar desporto depois de estar escuro como breu? Quem pode ter vontade de passear, de fazer turismo? Basta um almoço um pouco mais prolongado para se perder a tarde toda e impossibilitar qualquer tipo de visita que tenha de se realizar na rua, sob a luz do Sol. Parece-me que este horário demoníaco apenas se mantém para obrigar as pessoas a estar em casa. As horas de Sol, efectivas, são muito poucas para mim. No horário de Verão, terminamos o trabalho e temos tempo para apreciar o resto do dia, passear, ler um livro numa varanda, beber algo numa esplanada, ou até mesmo realizar as tarefas caseiras, aproveitando os bons pares de horas que ainda temos pela frente com luz solar. Tal é impossível no horário de Inverno. O Inverno é cinzento, escuro e frio. Este horário só ajuda a torná-lo ainda mais feio, ainda menos suportável. Não tenho base científica para o que vou dizer, mas acredito que as depressões sejam em maior número neste horário. Abomino esta mudança. Para mim é a verdadeira machadada no Verão, que já nos abandonou.
Se bem me lembro, houve uns anos em que a mudança de horário não se verificou. Se a memória não me atraiçoa, lembro-me que no pico do Verão eram quase 22h quando se dava o anoitecer. Isso agradava-me e vivo na esperança de que o mesmo volte a suceder.
Estamos em Outubro, 2017. Ainda não foi este ano que cortamos relações com o horário de Inverno. Hoje dormi mais uma hora. E durante os próximos seis meses estaremos sob o domínio deste horário que nos obriga a conviver com a noite escura muitas mais horas do que aquelas que eu quereria e gostaria. Como disse, não gosto deste horário. Apresento o meu veemente NÃO! a esta alteração. E vivo na esperança de que um dia se acabe com esta imposição do horário de Inverno/ horário de Verão. Terei, com toda a certeza, um nível ligeiramente mais elevado de felicidade.