Uma remodelação total e “cat friendly“
Publicamos, quinzenalmente, às sextas, um projecto de arquitectura e de decoração de interiores com exemplos de como aproveitar da melhor forma o pouco espaço disponível numa habitação. Bem-vindos às Casas XS. Uma curadoria do blogue Alexandra Matos Design
Após uma remodelação profunda, este apartamento conquistou recentemente uma menção honrosa no prémio municipal de arquitectura de Odivelas.
Um dos requisitos apresentados ao atelier Miguel Marcelino foi conceber uma casa pensada para a proprietária e para os dois gatos (sendo necessário ter em conta parapeitos junto à janela, a caixa do gato, a resistência dos materiais, entre outros). Além disso, era fundamental que, além do quarto principal, houvesse um escritório ou quarto de visitas e que fosse feita uma intervenção especial no longo corredor de entrada na casa.
Com isto em mente, e após algumas visitas ao apartamento, o arquitecto Miguel Marcelino começou a delinear as soluções que levaram este espaço de 70 metros quadrados a transformar-se num “lar feliz”, como o próprio definiu.
"Nesta remodelação não se aproveitou nada, nem uma única parede interior. Ficaram os pilares e as vigas e tudo o resto foi novo", recorda Miguel Marcelino.
"O principal desafio foi a arquitectura medíocre pré-existente, típica da construção anónima e desqualificada dos anos 70 e 80Na verdade, muitas vezes encontramos alguma coisa que podemos aproveitar. Neste caso, não havia nada. As zonas de arrumos estavam junto às janelas, onde temos preciosa luz natural; os quartos tinham varanda, mas a sala de estar, que até era menor do que os quartos, por seu lado, não tinha qualquer acesso ao exterior, apenas uma pequena janela; a casa-de-banho era claustrofóbica, etc."
Mas isto é passado. Agora, refere Miguel Marcelino, "entra-se por um corredor com uma parede diagonal que faz um efeito de aceleramento da perspectiva, um artifício arquitectónico já utilizado desde o Renascimento". Isto confere-lhe intensidade, "ao mesmo tempo que dá mais espaço à entrada", afunilando para "criar maior privacidade na passagem para a sala de estar, onde existem cabides que funcionam quase como uma galeria de arte — mas, aqui, a arte não são mais do que casacos, malas ou sacos".
Ao entrar na sala, prossegue, o visitante é "surpreendido com a quantidade de luz e perspectivas visuais diagonais que se abrem: a cozinha, as janelas da cozinha, o escritório, a varanda que agora tem um acesso directo à sala, bem como a forte presença dos pilares e das vigas de betão exposto, que lhe dão um carácter muito especial". A casa-de-banho é acessível através "de uma zona mais recatada, entre a sala e o quarto, e é totalmente branca e luminosa, fazendo com que uma pessoa nem se aperceba do pé-direito que, aqui, é bastante baixo".
Dicas para espaços pequenos
Para Miguel Marcelino, "o principal é ter uma arquitectura inteligente, no sentido da racionalização do espaço disponível, ou seja, evitar em demasia espaços que não servem para nada como, por exemplo, corredores". Deve ainda evitar-se o "excesso de compartimentação das casas e equacionar a possibilidade de unir a sala e a cozinha: isto obriga a soluções técnicas bem concebidas, para não se terem ruídos e cheiros incómodos na sala — não são muito conhecidas, mas há várias soluções". Depois, "não é preciso haver uma pequena mesa para comer, outra para jantar e outra para trabalhar, pode ser apenas uma única mesa grande, que sirva todos estes propósitos”.
Além disso, o arquitecto considera muito relevante “pensar o mobiliário enquanto elemento arquitectónico". "Há zonas de uma casa onde, em vez de uma parede de tijolo, um armário alto faz maravilhas."
Soluções low cost
“Na arquitectura que fazemos, a decoração não aparece como um elemento suplementar, mas como resultado da própria atmosfera criada pela arquitectura holística. Assim, a decoração é o próprio espaço, os materiais, a luz, os objectos do dia-a-dia, o moinho de pimenta em cima da bancada da cozinha, os casacos pendurados na parede, as vigas de betão expostas, o tipo de lâmpada que escolhemos para cada zona, os livros colocados em nichos que pensámos, os gatos nos parapeitos, as próprias pessoas a usarem a casa”, conclui Miguel Marcelino.