Girl Move, um projecto de desenvolvimento de competências ao nível da liderança e empreendedorismo social, traz 21 jovens moçambicanas a Portugal durante dois meses para realizarem "estágios de vida" em empresas portuguesas.
A Academia Girl Move é uma organização não-governamental portuguesa que trabalha com jovens raparigas em Moçambique, cujo objectivo é "contribuir para a criação de uma nova geração de mulheres", disse à Lusa a directora executiva, Alexandra Machado. Jubeda Majaja, uma das jovens moçambicanas que está a estagiar em Portugal, na L'Oréal, afirmou à Lusa que saiu da sua "zona de conforto". "Eu venho de uma realidade diferente, em que as mulheres não têm as oportunidades que eu tive. Eu tive o privilégio de ser formada, mas não é isso que acontece com as raparigas da minha comunidade", referiu a girl mover.
Jubeda quer ser "uma mulher líder" e abrir a própria empresa ou ter um projecto próprio. Quando regressar a Moçambique, a jovem pretende trabalhar questões relacionadas com as desigualdades sociais, entre elas o facto de a mulher ainda ser "um pouco submissa" e de "não ter visão para entrar no mercado de emprego". Jubeda sublinhou que para poder trabalhar nas suas causas é "preciso conhecer o mundo" e "conhecer as várias culturas que existem no mundo", razão pela qual decidiu candidatar-se ao programa.
Etelina Frederico, também girl mover, está a estagiar na Vieira de Almeida Advogados e disse à Lusa: "Mais do que nunca conheço as minhas forças e sei que tenho capacidades para poder transformar o mundo e fazer tudo aquilo que eu sempre quis fazer". Para Etelina, esta experiência permite que as jovens se descubram e consigam criar um "impacto positivo". Aquando do seu regresso a Moçambique, Etelina pretende trabalhar a questão dos maus tratos a presos.
Solução é a educação
Alexandra Machado sublinhou que estes estágios são enriquecedores, não só para as jovens raparigas, mas também para as empresas ao acolherem "mulheres com causas", que vivem todos os dias "circunstâncias difíceis" e que, por isso, "têm uma experiência enorme que transportam para as empresas". Para a responsável, Moçambique "vive situações de ciclos de pobreza" causados pela falta de acesso das raparigas à educação, sendo uma das regiões onde é preciso actuar. "A solução passa inevitavelmente pela educação", acrescentou.
Em Moçambique, 39% das raparigas com menos de 18 anos já é mãe o que, segundo Alexandra Machado, é uma das razões pelas quais a transição do ensino primário para o secundário é de apenas 10%. No país, nove em cada 10 raparigas não termina o ensino secundário e apenas 1% das jovens frequenta o ensino superior.
O Programa da Academia Girl Move tem a duração de um ano e divide-se em três fases, numa das quais as jovens têm a oportunidade de ser mentoras de raparigas mais novas em Nampula, Moçambique. A fase final inclui um estágio profissional internacional numa empresa portuguesa. São seleccionadas, a partir de candidaturas, 20 a 30 jovens raparigas para integrarem o programa com um "elevado potencial de liderança", especificou a dircetora. O projecto pretende que as candidatas sejam "agentes de transformação e inovação" para desenvolverem o seu país.