Fãs de Harry Potter na Indonésia podem estar a ameaçar a vida das corujas

Nos últimos anos, o comércio de corujas tem aumentado e a explicação pode estar na saga do universo de Harry Potter

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Ilya Naymushin/Reuters

Centenas de espécies de aves selvagens estão a ser transformadas em animais domésticos na Indonésia, devido a uma crescente procura e aumento de vendas que está a ser associada aos livros da saga do Harry Potter, onde as corujas são um dos animais de estimação dos jovens mágicos. Na saga, as corujas funcionam como elo que liga o mundo da magia ao mundo humano, transportando mensagens ou presentes — elas são capazes de carregar até uma vassoura voadora tal como fez Hedwig, a coruja do protagonista Harry.

No passado, as corujas não representavam mais de 0,06% no mercado de aves do país, mas no último ano a percentagem estava registada em 1,5%. Estimam assim que só no último ano tenham sido vendidas na Indonésia pelo menos 12.000 corujas de várias espécie do género Otus. O preço também não funciona como barreira. Conseguir uma coruja custa entre 5 a 25 euros.

As conclusões são apresentadas num estudo O Efeito Harry Potter: o aumento do comércio de corujas como animais domésticos em Java e Bali, Indonésia, assinado pelo antropólogo Vincent Nijman e pela bióloga Anne Nekaris, ambos professores na Universidade de Oxford Brookes, publicado recentemente na revista Global Ecology and Conservation.

Notam os investigadores que durante a década de 1980, 1990 e início de 2000, “as aves [de várias espécies] eram um animal doméstico popular na Indonésia”, mas “as corujas raramente eram encontradas no mercado”. Um fenómeno que se alterou durante a última década, assinalam. Conhecidas como “Pássaros Fantasma” na Indonésia, as corujas são agora apelidadas de “Pássaros do Harry Potter” pelos habitantes.

De acordo com os investigadores, as pessoas que responderam ao inquérito sobre o fenómeno de crescimento desta ave no mercado fizeram repetidas referências à saga escrita por J.K. Rowling. No entanto, ressalvam os investigadores, se essa ligação directa entre a obra e o aumento da sua comercialização existe, não foi sentida de forma imediata e acontece com algum atraso em relação à publicação da obra em livro e a sua adaptação para o cinema. Um fenómeno que pode ser explicado pela idade dos jovens que cresceram com a saga e que adoptam agora estes animais. A relação já tinha sido testemunhada com o filme de animação da Disney 101 Dálmatas, nota o mesmo estudo.

Quando os livros e filmes ficaram disponíveis com tradução na Indonésia, no início de 2000, não houve um imediato aumento do número de corujas no mercado. Mas os relatórios mais recentes mostram esse crescimento. Ao mesmo tempo, começaram a surgir páginas online com conselhos sobre como encontrar o animal, onde o comprar e como cuidar dele. Aqui poderá residir outra das explicações para o crescimento da popularidade desta espécie entre a população do país.

“O aumento de número de corujas disponíveis para venda desde 2010 não só em Jacarta, mas em Java e Bali coincidiu com o aumento em número e nível de organização das comunidades de corujas de estimação, online e offline, e isto, tal como os livros e filmes do Harry Potter podem explicar o aumento da popularidade da coruja como animal doméstico na Indonésia”, lê-se na conclusão do estudo.

A autora do livro já se pronunciou no passado sobre o assunto: “Se alguém foi influenciado pelos meus livros a pensar que alguma coruja se sentiria feliz fechada numa pequena jaula e mantida numa casa, queria aproveitar estar oportunidade para destacar que estão errados”.

A situação está a alarmar ambientalistas e activistas dos direitos dos animais que temem pelo impacto desta domesticação na vida selvagem. As leis da Indonésia para a protecção desta espécie não têm reagido ao seu crescimento no mercado, aponta o mesmo estudo. Além disso, o comércio é pouco controlado pelo que — mesmo que espécies não estejam actualmente ameaçadas — muitas das corujas são retiradas ainda muito cedo dos seus ninhos. Face aos dados recolhidos, os investigadores sugerem que as espécies sejam incluídas na lista de animais protegidos.

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