O narcotráfico destrói os países da América Latina. Gera insegurança e é o combustível para outros negócios ilegais como o tráfico de armas, o tráfico de influências e outros mais. Esses países não se levantam pela triste razão de se sentarem em campos de coca e de marijuana. Um venezuelano hoje tem de trabalhar vários meses para obter aquilo que um português ganha num dia de trabalho. E não é porque o português trabalha mais e melhor. Fazem os dois o mesmo, em lugares opostos.
Se dizemos a este venezuelano para trabalhar menos e ganhar mais, seguramente ele irá aceitar. A sua vida já está em risco. As balas pagas pelo Estado matam tanto quanto as que são pagas pelos Pablos Escobares. E esta gente que morre e perde tudo. Esta gente que vive com medo. Esta gente que vive submetida às vontades voláteis dos narcotraficantes e dos políticos que os usam como bandeira eleitoral. Esta gente sofre porque um puto rico quer uma linha de pó-branco ou uma ganza. Não são só ricos, são também os pobres.
Há de tudo entre os consumidores pelas mais diversas razões. Umas melhores que outras, mas não tenho nada que ver com isso. Nem eu, nem esta sociedade que se vê hipócrita. Cada um deve ter absoluta autodeterminação sobre o estado da sua consciência. Qual a solução para o narcotráfico? Como podemos salvar toda esta gente que morre por esse mundo fora? A legalização total e absoluta das drogas. Todas.
As armas devem estar ilegalizadas, porque pegamos numa e matamos outro. Contudo, não se vê pessoas a comprar heroína para ir espetá-la em veias alheias ou almas caridosas a oferecer coca a custo-zero. As drogas são um problema que diz respeito a quem as consome. A maior parte dos problemas que se estendem ao resto da sociedade são provocados pela sua ilegalização. Um bem ilegal só pode ser manuseado por criminosos e são eles que irão lucrar com o seu consumo.
Em resultado desta linha de pensamento, creio que todas as razões que suportam a ilegalização de substâncias psicoactivas são insignificantes perante o drama do narcotráfico. Seria um perigo para a saúde pública? Não mais do que agora, visto que quem quer drogas encontra-as. Mas em vez de ir comprá-las às mãos de criminosos deveria ir comprá-las a uma farmácia especializada, onde tem informação e segurança sobre o produto que compra e onde paga impostos por esse consumo. De um dia para o outro, o mercado da droga ilegal perderia o sentido. Milhões de criminosos sem ganha-pão. Bairros inteiros pacificados. Cidades! E porque não?
Temos medo que os nossos jovens se ponham todos a consumir só porque é legal? Muitos só o fazem pela razão oposta. E mesmo que isso aconteça, iremos salvar tantos outros do outro lado do Atlântico. Quem quer tomar drogas irá fazê-lo de forma mais segura. Quem não quer tomá-las não vai voltar a ter que se preocupar com quem as tomas, e acima de tudo, com quem as vende.
O Estado deixará de gastar rios de dinheiro em operações policiais contra o narcotráfico e poderá usar esse tempo e dinheiro para criar estratégias que reduzam o consumo sem passar pela ilegalização. O fim do narcotráfico está na mão de quem faz as leis dos países consumidores. Não porque tenham que fazer mais e melhores leis, mas porque têm que acabar com algumas delas. Se queremos o fim das drogas há que legalizá-las.