Um quarto que pode ser uma sala, uma casa que é um atelier

Vamos publicar, quinzenalmente, às sextas-feiras, um projecto de arquitectura e de decoração de interiores com exemplos de como aproveitar da melhor forma o pouco espaço disponível numa habitação. Bem-vindos às Casas XS. Uma curadoria do blogue Alexandra Matos Design

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Neste apartamento lisboeta, que alia “o charme dos anos 40 com a vantagem de ter um logradouro privado com duas árvores”, a arquitecta Inês Brandão encontrou “um pedaço de campo no meio da cidade”. A proximidade do rio e a tranquilidade que rodeia este apartamento com 70 metros quadrados, localizado num bairro industrial que servia de habitação social aos trabalhadores da antiga fábrica Ar Líquido”, chamaram a atenção desta arquitecta.

Para Inês Brandão, “o objectivo principal deste projecto era conseguir criar um apartamento que partilhasse as funções de habitação e de atelier de arquitectura". "Era essencial conseguir camuflar o lado habitacional durante o dia e criar um ambiente confortável durante a noite”, ressalva.

Outra grande preocupação desta arquitecta era a criação de muitos espaços de arrumação e, para isso, tirou partido do pé direito do apartamento (cerca de 3,30 metros). Assim, a ideia de criar uma espécie de mezanino no quarto surgiu de forma bastante natural. Sempre com o objectivo de ocultar o quarto, o desenho desta divisão teve diferentes fases.

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“Comecei por desenhar a cama no 'piso' superior e os roupeiros e a secretária em baixo. Mas o facto de ter tido bastante tempo para pensar neste projecto foi essencial para amadurecer as ideias e chegar à conclusão de que poderia criar algo ainda mais funcional e diversificado”, revelou a arquitecta. Surgiu, assim, um espaço que divide as suas funções entre quarto, sala, escritório e closet. Um espaço que se vai transformando conforme as necessidades.

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“Todos os cantos foram pensados de forma personalizada, os degraus transformam-se em gavetas, a cama foi adaptada para ter arrumação por baixo e foram criados alçapões no espaço entre o pavimento do escritório e o vazio onde se encaixa a cama. A cama, dependendo da sua posição, também pode ser sofá”, desvenda Inês Brandão.

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A construção deste móvel multiusos foi um desafio para esta arquitecta, uma vez que todas as peças foram desenhadas e mapeadas como uma espécie de puzzle. Sendo esta uma casa que se transforma em atelier há duas formas de encarar o espaço. “Quando se pretende uma visão formal e meramente profissional, ao entrarmos no apartamento iremos reconhecer o escritório principal do lado esquerdo e a sala de reuniões do lado direito. Se precisarmos de ir à casa de banho, iremos passar pela copa e pequeno espaço de refeições."

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Alexandra Matos é mestre em Ciências da Comunicação e é autora do blogue Alexandra Matos Design

Durante o restante tempo, ao entrarmos no apartamento, deparamo-nos com a sala de estar à nossa frente, que se prolonga para um espaço de refeições à nossa direita. Se continuarmos a andar pela esquerda poderemos entrar numa espécie de antecâmara do quarto ou passar pela cozinha — ambas ligadas a um pequeno espaço de refeições virado a nascente. Ao passarmos pelo quarto durante o dia, ficamos com a sensação de que se trata de uma pequena saleta, transformando-se à noite num quarto.

No espaço de refeições, a nascente, encontramos a porta que nos leva à casa de banho ou uma porta com uma cabeça de gato. Ao abrirmos esta última porta deparamo-nos com mais um “esconderijo de tralha”, a casa de um gato e uma porta para o exterior que nos leva a um pequeno pátio com jardim e mais um local de lazer/trabalho.

O facto de Inês Brandão ser cliente dela própria facilitou todo o processo, já que, segundo a mesma, “ao elaborar um projecto é essencial conhecer ao máximo os clientes e o local da obra": "O apartamento estava perfeitamente habitável, o que me permitiu elaborar o projecto sem pressas. Cada pormenor do projecto foi surgindo de forma natural no meu dia-a-dia."

O facto de habitar o local da obra permitiu-lhe ainda perceber como os novos materiais poderiam funcionar com a diferente luz ao longo do dia. A obra de reabilitação foi concluída em apenas um mês, sendo necessário um acompanhamento diário do projecto, uma vez que houve imenso trabalho de carpintaria e de construção. “Cada elemento foi pensado e desenhado ao milímetro”.

Dicas para espaços pequenos

Se possível, Inês Brandão aconselha a “tirar partido do pé direito alto” e a “pensar que cada canto da casa pode ser aproveitado de forma eficiente — não existem cantos mortos”.

Soluções low cost

Inês Brandão recomenda o uso de “tons claros nos elementos principais, criando a sensação de espaços maiores e mais luminosos": "A cor deve vir das almofadas, quadros ou objectos. Todos os outros elementos deverão ser de tons neutros.”

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