O Mastodon é uma rede social com o nome de um animal extinto há muito, mas que está a ganhar alguns utilizadores devido às boas intenções: ser um espaço online onde as pessoas não são bombardeadas por publicidade, e onde não têm de ter medo que as empresas por detrás do site vendam os seus dados.
Foi criada por Eugen Rochko, um programador informático alemão de 24 anos, como uma alternativa ao Twitter — de quem era um enorme fã — depois de o site começar a inserir anúncios entre as publicações da cronologia, e a reordená-la de acordo com algoritmos baseados no comportamento do utilizador (páginas visitadas, temas pesquisados, lista de “gostos”).
A solução de Rochko, é criar uma rede social impossível de ser utilizada para servir os interesses de terceiros, por ser “descentralizada das plataformas comerciais, o que evita o risco de uma única empresa monopolizar a comunicação”. O Mastodon inspira-se no Twitter, mas funciona através de várias cópias da plataforma, que podem comunicar entre si.
O fundador diz que estes vários sites funcionam como única federação, que compara aos serviços de email. “Os utilizadores estão dispersos através de várias comunidades independentes, mas continuam unidos na capacidade de interagirem uns com os outros. Pode-se enviar um email de uma conta no Gmail para o Outlook”, explica Rochko num texto sobre o serviço. De forma semelhante ao email, o identificador de um utilizador tem de incluir o nome e o site usado (por exemplo: @utilizadorteste@mastodont.social ou @utilizadorteste@outromastodont).
O objectivo é que qualquer pessoa possa escolher um site gerido por alguém de confiança e com regras com que concorda. Também é possível criar-se uma versão própria, visto que o código informático é aberto. Ou seja, qualquer pessoa pode escrutiná-lo e modificá-lo. De resto, funciona do mesmo modo que o Twitter, com os utilizadores a partilharem publicações (desta vez com um limite maior de 500 caracteres) numa cronologia.
A privacidade e venda dos dados dos utilizadores são questões que Sir Tim Berners-Lee, o cientista britânico que criou a World Wide Web, tem levantado nos últimos anos. Defende a criação de uma espécie de constituição universal para a Internet que salvaguarde os direitos dos internautas e impeça entidades governamentais e publicitárias de aceder a dados de navegação dos utilizadores sem autorização. Recentemente, criticou a decisão da administração do Presidente dos EUA, Donald Trump, de autorizar os serviços de Internet a vender os hábitos de navegação dos seus clientes a terceiros. “Há coisas que as pessoas fazem na Web que revelam tudo. Por vezes, muito mais do que conhecem sobre elas mesmas”, disse, em entrevista ao Guardian, após receber o prémio Turing.
Embora a Mastodon esteja a ser seguida por vários entusiastas (desde o lançamento em Outubro, conseguiu 40 mil utilizadores), os números não se aproximam dos do Twitter, que reúne 313 milhões de utilizadores mensais.
Esta não é a primeira tentativa a uma rede social sem publicidade. Em 2010, por exemplo, quatro estudantes nova-iorquinos já tinham tendo lançar uma alternativa ao Facebook, a Diaspora*, que também permitia várias cópias. O Ello (um equivalente ao Facebook que permitia o uso de pseudónimos) acabou por transformar-se num site de partilha de imagens.
A proposta de Eugene Rocko tem revelado problemas. Além de ser impossível eliminar uma conta depois de a criar, podem existir nomes de utilizadores iguais, para pessoas diferentes, em diferentes sites.
Apesar das ambições não-publicitárias de Mastodon, a atenção dada à rede social nos últimos tempos tem ajudado uma banda de metal norte-americana com o mesmo nome (e de que Rochko é fã), a usar a popularidade das pesquisas promover as suas músicas no Twitter.