Primavera, tempo de pulgas, carraças e lombrigas? Não necessariamente

Primavera e Verão podem ser sinónimos de parasitas nos animais de estimação, mas não tem de ser assim. Queres saber como?

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Alvin Balemesa/Unsplash

As pulgas e as carraças são os parasita externos mais comuns nos nossos cães. Os internos, embora perigosos, são menos conhecidos do público em geral e incluem, entre outros, as ténias e as lombrigas. Vamos ajudar-te a combatê-los. 

 

Pulgas

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Diana Meireles é médica veterinária no Hospital Veterinário de Santa Marinha (Grupo HVSM)

As pulgas são os parasitas externos mais frequentes e também os mais problemáticos, pois afectam os animais durante todo o ano. Em caso de infestação, só 30% das pulgas se vão encontrar nos nossos animais — as restantes estarão escondidas sob diferentes formas, como ovos, larvas e casulos, nas nossas casais, em locais como tapetes, estofos, pavimentos, etc.

Quando as pulgas picam os animais para se alimentarem, segregam uma substância salivar irritante e alérgica, que causa comichão intensa. Animais mais sensíveis a essa substância podem desenvolver Dermatite Alérgica à Picada de Pulga (DAAP). Em casos de infestações severas, alguns animais podem desenvolver anemias mais ou menos graves dada a ingestão de sangue por parte dos parasitas. As pulgas podem ainda ser vectores de alguns parasitas intestinais (como é o caso do Dippilidium) e outras doenças contagiosas para o ser humano (zoonoses).

A única forma de eliminar e impedir infestações de pulgas na casa e nos animais é manter a prevenção contra estes parasitas durante todo o ano.

Carraças

As carraças são os segundos parasitas externos mais comuns e abundam na Primavera e no Verão. No entanto, hoje em dia, graças às alterações climáticas, já não aparecem apenas nos meses de temperaturas mais altas, começando a surgir durante todo o ano.  

As carraças encontram-se na vegetação e é extremamente difícil evitar a exposição do cão a este parasita. Numa caminhada ou em qualquer actividade ao ar livre, o teu companheiro pode ser parasitado. Os gatos também podem ser vítimas fáceis, embora sejam aqueles com aceso ao exterior os mais predispostos a estas infecções.Há, por isso, que tomar as devidas precauções para que a contaminação não aconteça.

Em Portugal, como noutras partes do mundo, as carraças são portadoras de Babesia (um protozoário que causa a piroplasmose ou babesiose), Borrelia (uma bactéria que causa a doença de Lyme), Ehrlichia (uma riquétsia que causa ehrlichiose) e outros organismos, que podem representar sérias ameaças aos cães e aos seres humanos. Estes parasitas podem assim causar infecções vulgarmente conhecidas como "febre da carraça", podendo ainda causar irritação ou infecção no local onde se fixam à pele.

A doença causada pela Babesia canis e Babesia gibsoni é caracterizada por febre, anorexia e anemia. Torna-se fatal, se o cão não for tratado atempadamente. Já no que toca às zoonoses transmitidas por carraças, a Borrelia é a que merece mais destaque. É causada pela bactéria Borrelia burgdorferi que produz quadros de febre, anorexia, poliartrite, miopatias e adenopatias. De sublinhar que a doença de Lyme pode ser transmitida aos humanos, com sintomas semelhantes aos da gripe, podendo provocar graves complicações de saúde se não for diagnosticada a tempo. Já a Ehrlichiose bactéria Ehrlichia canis que, na fase aguda, causa febre, problemas respiratórios, falhas na coagulação com hemorragias, edema e vómitos.

Para reduzir o risco de transmissão de doenças ao cão, precisa de recorrer a uma solução que elimine efectivamente as carraças. Existem novas soluções de desparasitação que funcionam de forma mais eficaz que as soluções convencionais.

  

Lombrigas

Os nematodes, mais vulgarmente conhecidos como lombrigas, são os parasitas internos encontrados com mais frequência nos animais de estimação. Até cerca de 30% dos cães adultos e 70% dos cachorros estão infectados com o parasita Toxocara canis. Estes parasitas vivem nos intestinos do cão contaminado. A maioria dos animais não mostra sinais de alarme para a doença, no entanto, com uma elevada parasitose, especialmente os cachorros, apresentam sintomas digestivos – barriga inchada, diarreia e vómitos. As toxocaras podem ainda fazer migrações pelos pulmões desencadeando sinais respiratórios.

Os ancilostomas são uma espécie de larva, com cerca de 1 cm, que se fixa à mucosa do intestino, alimentando-se de sangue. Os ovos são ejectados para o trato digestivo, transitam para o meio ambiente através das fezes do cão e podem infectar outros cães através do mais simples contacto com o solo. Estes parasitas podem provocar hemorragias, representando uma séria ameaça, especialmente para animais até aos seis meses de idade, que podem não sobreviver em caso de anemias severas. Em animais mais velhos a perda de sangue pode ser crónica e o animal pode sofrer de caquexia e emagrecimento. Em infestações severas podem sofrer de anemias graves que, sem transfusão de sangue, podem ser fatais. Já os tricurídeos são dos parasitas intestinais mais comuns, têm até 7,5cm de comprimento e, normalmente, alojam-se na zona de transição entre o intestino delgado e o intestino grosso, fixando-se à mucosa do intestino.

Os animais infectam-se por lombrigas através da ingestão de ovos que estão presentes nas fezes dos animais contaminados, através do contacto com o solo ou com outros objectos, superfícies ou substâncias que estejam infectadas. Estes parasitas são especialmente resistentes e podem sobreviver no solo durante anos, mesmo em climas mais frios. É possível que os filhotes de uma cadela grávida contaminada também fiquem infectados com lombrigas, durante a gestação e amamentação.

Se o teu animal estiver infectado apenas com alguns parasitas, pode não demonstrar qualquer sinal de doença. Porém, se for uma grande contaminação podem surgir diarreias abundantes com sangue e vómitos. É importante salientar que em caso de infecção sem tratamento, os parasitas causarão danos graves que podem levar à morte do animal.

Também os seres humanos podem ser infectados com as lombrigas dos animais de companhia. As crianças pertencem a um grupo de elevado risco. Agarram-se aos cães e brincam no chão com muita frequência, locais onde os ovos destes parasitas podem ser encontrados. Em caso de contágio, estas podem causar sérios problemas de saúde, sendo o mais grave a cegueira.

Ténias

Os céstodes, vulgarmente conhecidos como ténias, caracterizam-se pelo seu corpo achatado, podendo chegar, em adulto, aos dez metros de comprimento. São vulgarmente chamados de “solitária”. Consideram-se um dos principais parasitas gastrointestinais, especialmente em mamíferos, e são muito comuns entre cães e gatos. O seu diagnóstico é feito através de análises às fezes e os sintomas incluem dores de estômago, vómitos, diarreias e convulsões. Tal como acontece com os outros parasitas, em caso de infecção severa ou falta de tratamento podem causar a morte do animal.

 

Dirofilárias

Este parasita é considerado um risco para os cães em todos os países da Europa do Sul. De aparência redonda (microfilárias) é transmitido por mosquitos e provoca uma doença parasitária denominada Dirofilariose, que pode afectar cães, gatos, animais exóticos e, mais raramente, o homem. Estes parasitas, quando atingem o estado adulto, podem medir até 30 cm de comprimento e alojam-se, frequentemente, na artéria pulmonar (coração) sendo por isso comummente chamados de “heartworm” (Dirofilaria immitis). Portugal encontra-se entre os países mais afectados pela Dirofilariose, e as alterações climáticas a que estamos a assistir ajudam à proliferação deste e de outros parasitas.

Assim como nas parasitoses externas, devemos proteger os nossos animais dos parasitas internos. O plano de desparasitação deve ser adaptado a cada animal, tendo em conta a idade, o ambiente onde vive e se tem ou não contacto com crianças ou adultos imunodeprimidos. Informa-te junto do teu veterinário sobre qual o melhor desparasitante a administrar e com que regularidade o deves fazer.

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