Projecto CoHabitar quer diminuir sem-abrigo nas ruas e reintegrá-los
Nova associação, criada em Novembro pretende ser alternativa a projectos existentes e aposta no realojamento
Assistentes sociais, psicólogos, educadores sociais e voluntários criaram uma associação e um projecto que têm como missão diminuir a população sem-abrigo e aumentar o número de pessoas que conseguem reintegrar-se com sucesso na sociedade. A associação "Atos de Mudança" e o projecto CoHabitar vão ser apresentados na quarta-feira em Lisboa num encontro promovido pela associação de apoio à integração social, com o tema "Pessoas Sem-Abrigo: Trajectórias para a Integração Social".
Em declarações à agência Lusa, o vice-presidente da associação, Pedro Magalhães, explicou que esta organização, criada no passado mês de Novembro, tem como "objectivo principal trabalhar na reinserção social" das pessoas em situação sem-abrigo.
"Quem trabalha nesta área sabe que é muito difícil conseguir que as pessoas sem-abrigo percorram os projectos de inserção até ao final e se insiram efectivamente na sociedade", disse o psicólogo, que trabalha com esta população há cinco anos. Ciente desta dificuldade, a associação tentou criar procedimentos "muito focados nessa reintegração social e que sejam uma alternativa aos projetos já existentes". Um desses projectos é o CoHabitar, uma resposta de alojamento que engloba três modalidades: Alojamento de reintegração Social, de emergência e de prevenção.
Pedro Magalhães explicou que o alojamento de reintegração social dirige-se a pessoas que pretendam reintegrar-se na sociedade, arranjar um emprego e gerir a sua vida de forma independente. O alojamento de emergência destina-se "a pessoas que estejam na rua até 72 horas" e tem como propósito reencaminhar rapidamente as pessoas para "respostas adequadas às suas necessidades". Por último, o alojamento de prevenção é "a grande inovação deste projecto", disse o também coordenador técnico, explicando que o seu objectivo é evitar que a pessoa caia na situação de sem-abrigo.
"Esta resposta de alojamento vai ocorrer em unidades de apoio residencial que são casas onde as pessoas vão ter acesso ao seu quarto e a todas as divisões da casa", que terão que partilhar com outras pessoas, no total quatro, explicou. Segundo o psicólogo, o projecto tem capacidade para acolher, em termos mensais, dez pessoas em reintegração social e outras dez na modalidade de emergência e de prevenção. "Além do alojamento e da comida aquilo que as pessoas sem-abrigo realmente precisam é de relações significativas para as suas vidas, pessoas que as ajudem e com quem possam conversar e estar à vontade, tal como todos nós", frisou.
A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e o município sinalizaram, em 2015, 440 sem-abrigo na rua e 376 em centros de acolhimento, totalizando 816 pessoas, um decréscimo face a 2013. "Aquilo que se ouve é que o número de pessoas sem-abrigo na rua está a diminuir mas o que acontece na maior parte das vezes é que elas voltam a reincidir porque não cumprem os planos de reinserção até ao final", frisou. Outro fenómeno a que se tem assistido e que os estudos mostram, nota, é que as pessoas se mantêm muito tempo nos centros de alojamento, nos quais "não é feito um trabalho de reintegração consolidado".
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, tem vindo a alertar para esta situação e pediu que a nova estratégia do Governo de combate à situação dos sem-abrigo seja para aplicar já este ano, para que este problema esteja erradicado em 2023.