Rita quer fotografar cem mulheres que gostam de mulheres para combater o preconceito
Fotógrafa portuguesa a residir em Berlim criou um projecto para mostrar mulheres iguais a tantas outras que são discriminadas pela sua orientação sexual. Crowdfunding quer juntar financiamento para editar um livro e fazer uma exposição
Foi o “contraste abismal” entre aquilo que via e vivia em Berlim e o que observou numa viagem aos Balcãs — entre a Croácia e a Bósnia e Herzegovina — que a empurrou para o projecto. Estávamos em 2013 e Rita Haars Braz percebeu, ao lado de uma amiga, que o preconceito em relação às mulheres que gostam de mulheres era bem maior do que aquele que ela sentia na cidade onde vivia. Estava criada a “necessidade de fazer algo que pudesse quebrar essa diferença” — e dado o mote para o Q Revolt - a portrait of women who love women, uma série fotográfica que Rita quer agora transformar num livro e numa exposição.
A publicação — para a qual a fotógrafa e directora de arte procura apoio numa campanha de crowdfunding — quer “mostrar a maior diversidade possível de mulheres, da butch à lipstick e todo o espectro entre elas”. Mulheres de todas as etnias, idades, estilos, estratos sociais e profissionais. Mulheres que gostam de mulheres e que se parecem com todas as outras. Objectivo: “Quebrar o preconceito ainda existente relativo a esta minoria, da qual faço parte”, explicou ao P3 por e-mail.
Rita mudou-se para Berlim há mais de seis anos. E, em terras alemãs, sente-se a viver numa “bolha, onde se pode ser quem se quer ser, onde o preconceito é raramente ou nada sentido”. Uma realidade bem diferente da vivida no resto do mundo, lamenta, e que, ainda assim, tem muito por onde melhorar: “Até em Berlim, o simples facto de andar de mãos dadas na rua com a minha mulher em certos bairros mais conservadores deixa-me ansiosa”, contou. “Isso é uma forma de discriminação que, por mínima que seja, ninguém deveria ter de passar.”
No arquivo, Rita Braz tem já vinte retratos feitos em Berlim e na Suécia. Com o apoio da campanha de financiamento colectivo, onde pede 5500 euros, quer chegar a uma centena de fotografias (analógicas) feitas em vários países. Portugal incluído, se tudo correr bem. E Rita aceita candidaturas. As retratadas podem escolher o local onde são fotografadas porque, acredita, também é uma forma de mostrar a personalidade destas mulheres e ajuda a contar a história delas. A subir degraus no combate ao preconceito.
Em Portugal, “as pessoas ainda são bastante preconceituosas”, avalia. Mas nem tudo é negativo: “Julgo que está a melhorar — e a maior prova disso foi organizar o meu casamento com a minha mulher em Portugal”.