Antiga escola primária torna-se museu de “afectos” e memórias do Tejo

Escaroupim e o Rio é o nome do pequeno museu da aldeia piscatória do concelho de Salvaterra de Magos

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As aldeias avieiras surgiram nas margens do Tejo nas primeiras décadas do século XX Rui Ornelas/Flickr

A antiga escola primária do Escaroupim, aldeia piscatória do concelho de Salvaterra de Magos, foi transformada num museu, histórico e "de afectos", de homenagem ao Tejo e às memórias de vidas ligadas ao rio. Escaroupim e o Rio é o nome do pequeno museu, inaugurado este sábado, 25 de Fevereiro, e que se vai juntar a outros equipamentos que preservam "muito do património cultural, etnográfico, dos usos e costumes de gente cujas raízes se mantêm na aldeia", disse à Lusa o presidente da Câmara Municipal de Salvaterra de Magos, Hélder Esménio.

A aldeia avieira é uma das várias que, nas primeiras décadas do século XX, surgiram nas margens do Tejo à medida que se foram fixando os migrantes da zona de Vieira de Leiria, procurando a pesca no rio quando não era possível ir ao mar. Situa-se "numa das zonas mais bonitas do Tejo", junto aos mouchões (pequenas ilhas), salientou o autarca.

"O museu procura registar, num espaço abandonado que era uma antiga escola primária requalificada e ampliada, num investimento de cerca de 200.000 euros, toda a ocupação humana ribeirinha" desde a pré-história à instalação dos avieiros, disse o autarca.

"É de alguma forma um documento histórico que ajuda a explicar como é que chegámos aos dias de hoje e está no sítio certo, junto ao rio e no Escaroupim", acrescentou. O museu junta-se à Casa Tradicional Avieira, aberta "há muitos anos", e ao restaurante situado junto ao rio, numa "panóplia de ofertas" turísticas que inclui ainda a possibilidade de realizar cruzeiros no Tejo.

A inauguração do museu acontece no fim-de-semana anterior ao início daquele que o autarca considera "o maior evento de promoção do concelho", o Mês da Enguia. Ao longo de cinco fins-de-semana (de 3 de Março a 2 de Abril), alia a gastronomia, com a "rainha do Tejo" a ser servida em 19 restaurantes, a uma mostra de artesanato e de produtos locais e a um vasto programa de animação.

Roberto Caneira, o historiador responsável pela musealização do espaço, disse à Lusa que este, dividido em três salas, começa com referências às primeiras comunidades ribeirinhas pré-históricas — com destaque para os "concheiros de Muge", onde têm vindo a ser realizadas ao longo dos últimos anos escavações arqueológicas — e à importância que a zona assumiu durante o período romano. Nas outras duas salas prevalecem objectos cedidos pela população. Na primeira, relativos à arte da construção das embarcações e ao tráfego fluvial, de importância crucial no transporte de produtos, sobretudo até à construção da ponte de Vila Franca de Xira, em 1951. Na segunda sala, estão objectos referentes às artes da pesca e à vida dos avieiros. Neste segundo espaço dos "afectos", há ainda lugar para a importância das cheias do Tejo na fertilidade dos terrenos da região, fazendo a ligação com a outra ocupação da população local, a agricultura.

A exposição termina com imagens que são um convite a uma visita a zonas ribeirinhas do concelho recuperadas ao longo dos últimos anos e "devolvidas às pessoas", frisou o autarca. Na salinha de entrada, às redes da pesca junta-se um espaço de memória da ocupação anterior do espaço com uma carteira da antiga sala de aula, um pequeno quadro, fotografias de uma das primeiras e da última turma (1991), um crucifixo e uma régua. Lá fora, Virgílio Botas, 83 anos, antigo pescador, não esconde o orgulho por, lá dentro, estarem algumas peças que foram suas, como uma bóia para regular as redes e uma lanterna.