Estreita e pouco iluminada. Abandonada e completamente vazia. Quatro paredes brancas e cerca de 14 metros quadrados. É o que antes se poderia chamar despensa ou beco. Eles chamaram-lhe BECUH, um espaço que foi dinamizado para acolher jovens artistas e diferentes projectos de street art.
Três amigos decidiram trazer as intervenções da rua da Madeira para dentro de “um espaço morto”. Ao lado da estação de São Bento, o percurso pela calçada começa com a pergunta “Quem és, Porto?”, um mural com três mil azulejos com assinatura ±MAISMENOS±. Vamos subindo e sentindo o pulso às intervenções de Hazul, Fome, Mariana Patacas, GODMESS, mynameisnotSEM, entre outros anónimos que modificaram as fachadas dos prédios. Pelo caminho cruzamo-nos com o número 98, também pintado à mão, números bem grandes e uma campainha bem pequena com as letras "BECUH" pouco visíveis à primeira vista. Está lá um portão branco e um corredor a céu aberto.
Há dois anos, Tiago Gomes, Bebiana Branco e Filipe Granja encontraram um espaço escuro e abandonado. Mas quando atravessaram, pela primeira vez, o portão branco perceberam que poderia tornar-se no atelier de trabalho ideal. Ali ao lado estava também uma pequena sala, agora transformada em “Badass Experiences by Creatives from Urban Habitat”.
O BECUH não é, todavia, uma “galeria normal” nem um “espaço de exposições”. Tiago explica que “é um espaço livre em que o artista pode mostrar tudo e fazer o que quiser”. O objectivo é “trabalhar com artistas do Porto e para o Porto, pessoas que passam despercebidas e que não têm tantas oportunidades, mas também com artistas reconhecidos e conhecidos”. Resumindo, o BECUH é um espaço aberto a jovens artistas, a novos projectos e a todas as pessoas que se identifiquem com a street art.
Tiago, GODMESS nas paredes, decidiu conciliar o seu trabalho artístico com a curadoria de um “espaço dedicado a tudo o que se passa da rua”. A ideia é trabalhar “a street art e o graffiti” de forma mais constante e “tentar trazer a rua para o espaço”. Para isso, o BECUH é entregue a diferentes artistas todos os meses. “Procuramos criar algo novo para o Porto e que não fosse apenas para artistas que estão na berra”, conta o artista plástico.
Durante este ano, o BECUH vai receber 12 artistas e apresentar 12 projectos. Bruno Lisboa é o primeiro convidado a mostrar o trabalho que está a desenvolver. Durante o mês de Janeiro, as paredes brancas deste “espaço mutante” vão transformar-se num “tributo à cultura do skate e aos bons e maus momentos” passados pelo artista plástico. “All my heroes ride a skateboard” são situações caricatas, desenhos pintados nas paredes e ilustrações de skaters famosos. “O fio condutor da exposição é a boa disposição e os bons momentos que andar de skate traz”.
Bruno está já a trabalhar no conceito e nas obras que vai apresentar este mês. “Os artistas vão mostrar os seus trabalhos no último fim-de-semana de cada mês e no resto do tempo podem trabalhar no espaço, que será inaugurado à sexta e vai estar aberto aos sábados e domingos de manhã”, refere Bebiana.
Tiago sublinha ainda que o BECUH é “um projecto experimental e um bocado underground”. “A nossa ideia é que o espaço seja para a comunidade e para as pessoas que realmente se interessam pelo tema. Não queremos que seja algo de massas, mas para quem se identifica”, acrescenta. Para já, é considerado um projecto a curto prazo, mas está aberto a quem quiser “uma oportunidade para evoluir”. Desde performances a workshops, de exposições a experiências de trabalho no atelier, existe uma ligação entre a rua, a arte e o recente espaço portuense. Mais ou menos 14 metros quadrados, ao fundo do corredor, atrás do portão branco.