Há uns tempos alguém descrevia Lisboa como um galinheiro. Antes fosse. Agora mais parece o sub-mundo do Super Mário onde, a qualquer momento, podemos cair num buraco sem fim. O Dr. Fernando Medina é um homem de princípios e, como o Pai Natal (que não existe!), pretende satisfazer os desejos de todos os lisboetas. Mas será que nós, lisboetas, pedimos estas obras? Ou estamos apenas a ser castigados por mau comportamento? Como não sei responder à pergunta, decidi trocar o Pai Natal pelo Dr. Fernando Medina. Estou convencido que o Presidente da Câmara não vive na mesma Lisboa que eu.
"Caro Dr. Fernando Medina,
Queria começar por lhe perguntar se acha que os Lisboetas se portaram mal? Como o Pai Natal, se calhar devia ter-se lembrado de perguntar aos residentes desta maravilhosa cidade se queriam ou não avançar com estas obras (todas ao mesmo tempo!). Até porque, que eu me lembre, o senhor nem foi eleito. Está num lugar para o qual não foi selecionado democraticamente (no fundo como o Pai Natal). Bem sabemos que quer escolher as iluminações no próximo ano mas eu espero bem que isso não aconteça, até porque a repetir-se mais parece uma feira.
O senhor não se desloca num carrossel cheio de renas mas quando as obras acabarem certamente que se deslocará de bicicleta, certo? É que na cidade das sete colinas é o meio de transporte ideal! E quem não receber uma bicicleta este Natal, não se entristeça, não é verdade? Há sempre uma alternativa chamada transporte público. Essa maravilha que tão bem funciona. Com pedidos de desculpa por perturbações, seja em que linha for, dia após dia; com três carruagens em hora de ponta; com milhares de máquinas de bilhetes avariadas e milhares de funcionários em "hora de almoço", a horas de jantar e com cabines encerradas na maior parte das estações, incluindo aeroporto, o que dá um jeitão!
Dr. Fernando Medina, há quanto tempo não anda de metro? O senhor sabe o que é ter de esperar pelo terceiro metro para conseguir ir para casa (PCP, BE, onde andam vocês?)? Claramente que não. Mas diga-me: um dos seus objectivos era reduzir o número de viaturas a circular pela cidade, acha mesmo que o vai conseguir sem primeiro melhorar os meios alternativos? Se a justificação é a falta de dinheiro público, dou-lhe uma boa sugestão: peça um empréstimo à EMEL, essa entidade rica que tem por lema: "time is money" (PCP e BE?!).
Vou ter também a ousadia de lhe perguntar se ultimamente tem andado pela segunda circular? É que faz lembrar aquelas cidades com quinze milhões de habitantes. Dr. Fernando Medina, juro que é verdade, às vezes é quase meia noite e o trânsito é infernal. Com tanto movimento dou por mim a pensar que estou em alguma metrópole chinesa. Só me apercebo que é Portugal quando no final reparo que todo o trânsito àquelas horas ordinárias é culpa das obras que só deixam uma faixa de circulação.
Depois queria perguntar-lhe se, para o ano, o Piquenique do Tony Carreira passa ali para o eixo central da Avenida da República. É verdade que vai mesmo acontecer? E, quando as obras terminarem, haverá vacas a pastar por aquela relvinha simpática de Entre Campos ao Saldanha?
O Dr. Fernando Medina vem lá de cima do norte. Uma coisa que os nossos conterrâneos (tão aguerridos que são) não deixariam de certeza, era ter um alfacinha a tomar conta da sua cidade. Mas vá que nós somos mais condescendentes, ou não, tendo em conta que ocupou o lugar depois de o seu amigo António Costa ter ocupado um lugar que também não lhe pertencia.
Sabe, eu reconheço que Lisboa precisa de algumas obras e sou a favor do seu melhoramento urbanístico. Mas acho que qualquer Lisboeta, bem ou mal comportado, consegue perceber que as obras não devem ser feitas todas ao mesmo tempo. Já reparou nos milhares de engarrafamentos que causou desde Abril? Mas porque carga de água decidiu fazer tudo ao mesmo tempo? Não se lembrou que havia coisas mais importantes a tratar, como o já referido melhoramento do transporte público? Ou acabar com os buracos à Super Mário? Ou tratar de limpar os esgotos e folhas de Outono? Eu sei que gostava, mas não vamos receber as olimpíadas da natação.
Eu não acredito no Pai Natal mas também não acredito no Dr. Fernando Medina e nas suas medidas tão amigas do ambiente e dos lisboetas. Quem não sabe que isto é para novo mandato, acredita no Pai Natal. A sua sorte é que as pessoas têm memória curta e rapidamente esquecerão o inferno em que Lisboa se transformou nos últimos oito meses.
PS: Não se esqueça de dar ordens honoríficas a todos os pneus que vão sobrevivendo aos intermináveis buracos à Super Mário."