O porquê de nunca nos curvarmos diante de um rei

Evoluímos como um povo, resultado de séculos de opressão e fome onde todo o poder económico e militar se concentrava entre a nobreza e a realeza apenas porque Deus assim o ditou

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Susana Vera/Reuters

Não, não é uma questão de boa educação, mas uma questão de princípio, ou de ideologia, digamos assim. Porque aos reis não lhes devemos nada. Aliás, e para quem tem a memória curta, ou não percebe nada de história, em Portugal, onde habitam os portugueses, até se matou o rei, o último deles todos, em nome da implantação da República. Porquê? Porque aqui, mas também um pouco por todo o mundo, evoluímos como um povo, resultado de séculos de opressão e fome onde todo o poder económico e militar se concentrava entre a nobreza e a realeza apenas porque Deus assim o ditou. Ora, quando Deus nem sequer existe, é aqui que começam os problemas, não é? Porque onde não existe ordem divina, não deve existir a subjugação de populações inteiras apenas porque uma pessoa assim o quer. E assim se fez a Revolução Francesa.

Portanto, compreendam, se reis e rainhas ainda subsistem nos dias de hoje foi porque certos países assim o permitiram, mas sempre sob o entendimento de não mais deixar cair nas suas mãos o poder de decidir sobre a vida e sobre a morte de cada um de nós. Sim, são reis, mas não têm dentes, ou então andam pelas ruas com um açaime e já não podem morder. E por tudo quanto os seus antepassados fizeram aos nossos antepassados nunca hão-de ter o nosso respeito.

No fundo, se certas famílias reais ainda existem, tal só acontece para nosso bel-prazer, porque também nós crescemos no meio de histórias de príncipes e princesas, cavaleiros e dragões, bailes e banquetes, e a nossa imaginação gosta de se entreter enquanto folheamos, distraidamente, as revistas cor-de-rosa num domingo à tarde.

Por isso, nunca me hei-de curvar perante um rei. Já o contrário é o mínimo exigido num mundo onde nos queremos a todos iguais e com o sangue da mesma cor. Basta fazer um corte no dedo para perceber que somos todos homens, mas enquanto uns já passaram à história os outros cospem-lhes nos pés à sua passagem.

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