O burel, tecido artesanal feito de lã, é tradicionalmente usado para capas e casacos de pastores da Serra da Estrela mas, por ser "tão versátil", já é aplicado também em calçado e até como revestimento de paredes.
Em 2008, apercebendo-se do "impacto que a falência das antigas fábricas de lanifícios causaram na população local", Isabel Costa e o marido decidiram iniciar dois projectos que "pudessem ajudar à revitalização económica de Manteigas". "Por ser [um tecido] tão versátil, podemos aplicá-lo em quase tudo, desde moda, calçado, objectos de decoração, revestimentos de paredes, arquitectura, enfim, as possibilidades são felizmente inúmeras", conta Isabel Costa. Foi dois anos mais tarde, em 2010, que este casal decidiu "recuperar a fábrica da Lanifícios Império e pôr em prática o projecto Burel".
"O projecto começou exactamente com o propósito de empregar as pessoas que tinham esse 'know how' e estavam desempregadas." Recuperar a fábrica implicou a recuperação de máquinas antigas e a integraçã de "uma geração de mestres que pudesse preparar uma nova geração de outros mestres nestas artes".
Trabalhar o burel, pela sua densidade e diferentes tipos de acabamento, "exige uma mestria e algum engenho". A empresa de Isabel Costa, Burel Mountain Originals, participa anualmente em 12 feiras internacionais e parte do volume de negócios "é feito através das exportações", nomeadamente para países como o Japão, Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Bélgica, Holanda, Reino Unido, Polónia, Suíça, Espanha, Taiwan, Singapura e China.
Entre as criações da empresa, que tem vários designers como colaboradores, estão uma "gama vasta de roupa, acessórios, carteiras, mochilas, produtos para casa, bancos, tapetes e brinquedos". "Fazemos também vários projectos de arquitectura, através do revestimento de paredes, ou com painéis", disse a responsável.
Foi o "novo fôlego" que Isabel Costa emprestou ao burel que deu à marca de sapatos portuguesa Josefinas "vontade de reinterpretar" o tecido típico das capas dos pastores da Serra da Estrela. Recentemente, a marca criou uma "colecção especial, não limitada", na qual "recupera elementos naturais e a ideia de Inverno na Serra da Estrela", contou à Lusa Sofia Oliveira, uma das sócias da marca. A colecção é composta por dois modelos de botas e outros dois de ténis, impermeáveis.
"Os nossos mestres sapateiros conseguiram trabalhar muito bem com o burel, que, com novas técnicas de manufactura, tornou-se resistente à água", referiu. Os Estados Unidos são o principal mercado desta marca (que tem a sua única loja física em Nova Iorque), com cerca de 35% das vendas. Segue-se a Europa, com Reino Unido e Portugal em lugar de destaque. As vendas têm crescido em mercados como Singapura, Hong Kong e Austrália.
Mas estas não são as únicas empresas e marcas portuguesas a reinventar este tecido tipicamente português. A marca de calçado Cortebel vende alguns modelos com burel e a À Capucha decidiu "reinventar a capucha, uma capa tradicional portuguesa, usada por pastores e lavradores". As capuchas são feitas à mão em burel. Já a Ecolã Portugal vende, além de casacos e capas, malas, mochilas e boinas, confeccionadas em burel. O criador de moda Miguel Gigante, sediado na Covilhã, "só trabalha com burel", tecido com o qual faz casacos, coberturas de mobiliário, candeeiros, malas, almofadas, alfinetes de lapela e chapéus.