Se soubesses o que custa mandar, gostarias de obedecer toda a vida

Ainda há quem fale de vestir a camisola, quando na verdade andamos todos de tronco nu

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Alexandre Chambon/Unsplash

Já António de Oliveira Salazar dizia que se soubéssemos o que custava mandar, obedeceríamos toda a vida. Embora ele já nos tenha deixado, a sua doutrina ainda serve de modelo para a sociedade portuguesa, particularmente no mundo laboral onde os trabalhadores, hoje em dia democraticamente apelidados de colaboradores, continuam a ser tratados como meninos traquinas incapazes de autonomia e produtividade se deixados à sua própria sorte.

Curiosamente, a maioria das pessoas que exige um compromisso inabalável da parte dos seus empregados dão geralmente o exemplo pela negativa no respeitante a questões como o rigor de horário ou a transparência corporativa. No fundo esse é o cerne da questão agora, como o era por alturas do Estado Novo: da mesma forma que um bom ministro das finanças não será automaticamente um líder exemplar, também ser um publicitário, advogado ou informático competentes não significa que a pessoa em questão seja ideal para gerir outros. Porque é disso que estamos a falar, não de recursos humanos, não de massas laborais, não da classe trabalhadora e não de assalariados, mas sim de pessoas. Pessoas que necessitam de ser motivadas, reconhecidas, desafiadas e cujas valências têm de ser aproveitadas da melhor forma para cada uma das tarefas em questão. Algo que é totalmente distinto de gerir processos, capacidade que em Portugal parece dar automaticamente equivalência a um perfil de líder.

Mas num país em que a facilidade com que se pode despedir e abrir falência é tão gritante e o desemprego e a precariedade tão acentuadas, quem é que se vai preocupar com o bem-estar dos trabalhadores ou com a destreza motivacional dos cargos de gerência?

É precisamente por os trabalhadores serem tratados como prescindíveis que são os próprios os primeiros a agir como temporários, quando o que encontram todos os dias é um ambiente de decepção e engodo em que se atiçam colegas uns contra os outros através de sistemas de recompensas e distribuição de tarefas pouco claros, quando não obscuros. No meio de tudo isto ainda há quem fale de vestir a camisola, quando na verdade andamos todos de tronco nu.

Entretanto os cargos de topo mantêm-se inabaláveis na sua inépcia em gerir eficazmente os seus trabalhadores e não há quem se questione que, por mais que a base mude, se o problema se mantém é porque a raíz do problema terá de estar no topo. Tudo porque no modelo capitalista, para uma empresa ser considerada bem-sucedida basta ter lucro, independentemente do custo e do sacrifício pessoal, profissional e social das pessoas nela envolvida. E se as coisas acontecem desta forma, é sobretudo porque é raro o decisor que já esteve na posição de subordinado, o que os deveria tornar, se não incapazes pelo menos questionáveis enquanto responsáveis pela gestão de pessoas de forma eficaz.

Pois é, se soubesses o que custa obedecer, pensavas bem antes de mandar.

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