O dia em que Deus se esqueceu de abençoar a América

Há apenas uma certeza que parece ser universal: a história da humanidade ganhou mais um dia determinante para o seu longo curso

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Adrees Latif/ Reuters

Acordámos todos em sobressalto, confusos e sem certezas (ainda menos) do futuro que aí vem. Semelhante confusão talvez só na manhã após o terror em Paris, de 2015. Há apenas uma certeza que parece ser universal: a história da humanidade ganhou mais um dia determinante para o seu longo curso.

Agora falando de coisas mais concretas. Estamos nós, europeus, perturbados com a vitória de um magnata desbocado, obcecado em erguer muros, em fazer da sua América fantástica de novo. Ele até pode querer isso tudo, mas esquece-se de que a América nunca foi fantástica e isso nunca passou de um sonho daquela mistura de povos. Creio até que todo o mundo deveria ter o direito de votar nestas eleições, não fosse o resto do mundo a origem daqueles estados muito pouco unidos.

Estava eu a dizer que nós, cidadãos da Europa, estamos apreensivos com esta vitória que de pouco ou nada espanta. A sério, não admira. Isto é a América: populismo, fanatismo, ilusionismo, talk shows e coca-cola. Que esperavam? Ter um candidato extremamente culto (veja-se culto como alguém com um vasto conhecimento em variadas áreas e capaz de saber falar de todas elas, ou então veja-se apenas como um elogio), ter um candidato apaziguador e ao mesmo tempo determinado? Isso não existe.

E volto de novo ao que estava a tentar escrever: estamos nós, cidadãos europeus, revoltados com o pensamento americano, a abanar a cabeça negativamente, quando dentro das nossas portas temos uma extrema direita numa cavalgada galopante até ao poder. Temos nós, na nossa Europa, milhões que votam Le Pen. Outros que elegem Orbán (este sim, ergueu um "muro" de arame farpado), um Reino completamente desunido que vota a favor da xenofobia, uma Alemanha demolidora e uma Europa aos seus pés, onde prevalece o valor do dinheiro, em detrimento da equidade social. Isto é o Trump na Europa. E isto é o que Deus se esquece todos os dias de abençoar. Esqueceu-se de abençoar a Síria e os milhares que ficaram e continuam a ficar no mediterrâneo. Esqueceu-se de abençoar Bruxelas, Paris, Nice, Orlando, a Turquia e tantos mais. Esquece-se permanentemente deste mundo. Esquece-se da democracia, da tolerância e do respeito. Esquece-se das vítimas do clero. Portanto não é de estranhar que se tenha esquecido também de abençoar a América neste dia.

Se o muro de Trump for o pior imaginável, alegrem-se as almas, porque o pior continua a estar à nossa porta.

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