A comunidade japonesa do Porto não ultrapassará as 150 pessoas. Número que poderá não ser suficiente para criar um mercado orientado para a própria comunidade que seja rentável e sustentável. Há, no entanto, cá, uma curiosidade pelo país do Sol Nascente que motivou a abertura de alguns espaços, além das dezenas de restaurantes de sushi, sobretudo, mais orientados para a cultura pop nipónica. Essa curiosidade é particularmente visível em eventos como o Iberanime, que decorre este fim-de-semana no edifiício da Alfândega, no Porto, e onde são esperadas cerca de 12 mil pessoas.
Em 2005, Ana Cancela, esteve no Japão. De lá trouxe a vontade e os contactos que lhe permitiram dar seguimento à paixão que sempre teve pelo Oriente, especialmente pelo Japão. Em 2008 abriu a Kuri Kuri, na Rua do Rosário, a primeira loja do Porto dedicada exclusivamente à cultura japonesa. Quando regressou, percebeu que havia um “público ocioso” pela cultura vinda do Japão e detectou uma oportunidade no mercado.
Numa primeira fase, apostou num target que procurava banda desenhada e animação japonesa, designados por manga e anime, enquanto, ao mesmo tempo, vendia também algum artesanato. “Nessa fase, era habitual ter o corredor da loja cheia de jovens que se sentavam no corredor a ler”, recorda uma altura em que o grosso dos clientes eram um público mais juvenil.
Face à crise e à diminuição de poder de compra dessa faixa etária, foi-se adaptando e mudando de estratégia. A partir de 2012, os produtos tradicionais de decoração, artesanato ou bijuteria passam a ocupar a maior parte do espaço do estabelecimento. Hoje quem entra na Kuri Kuri pode encontrar artesanato em cerâmica ou madeira, papel para origami, material e ingredientes para sushi ou peças de vestuário, nomeadamente o tradicional kimono.
Contudo, não deixou de vender as mangas, mas agora só e exclusivamente escritas em japonês, que são vendidas à comunidade local japonesa e a quem está a aprender a língua. Actualmente, a faixa etária dos clientes subiu, situando-se na casa entre os 30 e os 50 anos, maioritariamente pessoas que estiveram no Japão ou pretendem visitar o país. A Kuri Kuri também organiza, regularmente, workshops de origami, arte sequencial de manga, poesia japonesa, entre outros.
O paraíso dos cosplayers
Noutro extremo da cidade, no número 352 da Alexandre Herculano, está a AniPlay, espaço dedicado a todo o tipo de artigos relacionados com anime e manga. Digamos que é a meca da cultura pop japonesa da cidade do Porto. O sítio perfeito para “caçar” Pokémons, embora os desta loja sejam de peluche. Mal se entra no espaço há uma série de personagens de anime pendurados e espalhados pelo estabelecimento, numa espécie de festa para a qual todas as figuras ilustres do género foram convidadas.
A AniPlay abriu em 2013, por obra de Isabel Moura, uma antiga cosplayer que estudou Letras. É, por isso, o espaço ideal para quem gosta de se mascarar de qualquer personagem de anime. Isabel diz que quando começou não eram assim tantos. Hoje, diz existirem no Porto “centenas” de cosplayers. Naturalmente, diz frequentarem a loja trajados a rigor. Ao longo dos anos de actividade o espaço foi crescendo. Actualmente, além do espaço principal, há uma zona de cafetaria onde se podem experimentar alguns produtos japoneses e ligados à cultura anime. Nessa zona, há também uma área onde podem ser jogados clássicos de arcada e jogos de consola.
Mais recentemente, abriu outro espaço, complementar à loja, onde são vendidas peças de vestuário japonês, que podem ser usados no dia-a-dia, e onde é possível comprar e fabricar os trajes usados pelos cosplayers. Na AniPlay, há ainda um palco que é usado por bandas que tocam JPop (pop japonês) e para outras actividades lúdicas, todas elas, sempre com entrada gratuita.
Para os amantes de manga, a Mundo Fantasma é a livraria, da cidade, mais completa dentro do género. Abriu há 24 anos numa garagem na Senhora da Hora e há 18 transferiu-se para o Centro Comercial Brasília, o primeiro shopping a abrir portas em Portugal. Marco Novais, proprietário da livraria, explica que quando iniciou este projecto ainda não vendia banda desenhada (BD) japonesa.
A Mundo Fantasma, cujo nome tem origem na novela gráfica Ghost World, de Daniel Clowes, começou por vender, principalmente, BD americana. Em 2002, após a abertura da editora TokyoPop, “que revolucionou o mercado da manga numa escala de preço e variedade”, a loja abraçou o género, “ainda antes de o mercado americano o fazer”. Actualmente, a manga ocupa um terço da loja e é procurada por um público muito variado, por haver séries “orientadas para todos os grupos”, explica.
Ainda que não seja um espaço dedicado na totalidade à cultura japonesa, a Mùi Concept, que está no Centro Comercial Miguel Bombarda, é outra loja onde podem ser encontrados alguns artigos japoneses. O espaço, onde se pode comprar chás de todas as áreas do globo onde é produzido, criado pela vietnamita Thuy Tien, destaca, naturalmente, artefactos com origem no Vietname. No entanto, é possível encontrar todo o tipo de artigos japoneses associados à cultura e ao ritual do chá, nomeadamente vestuário ou acessórios como bules ou copos.