Um hospital, um cinema e um tribunal podem, em breve, dar lugar a hotéis no centro de Braga. As empresas de hotelaria querem aumentar a oferta na zona histórica da cidade, que tem estado carente de camas, e têm debaixo de olho alguns edifícios emblemáticos. Entre associações, movimentos e partidos defende-se a necessidade de uma maior discussão pública em torno deste tipo de projectos. A câmara promete ser “escrupulosa” no cumprimentos das regras antes de aprovar os investimentos.
No mês passado, veio a público o interesse do grupo Vila Galé em transformar parte do antigo hospital S. Marcos num hotel. Não são porém conhecidos pormenores quanto ao tipo de unidade ou às dimensões do investimento previsto. Contactada pelo PÚBLICO, a empresa não quis fazer comentários sobre o projecto, que foi apresentado nesta quinta-feira, numa versão preliminar, numa cerimónia pública.
Entretanto, os mesários da Santa Casa da Misericórdia de Braga aprovaram em Assembleia Geral um contrato promessa de constituição de direito de superfície a favor daquela empresa, que incluía o pavilhão norte do antigo hospital – com exclusão da igreja de S. Marcos, da capela de S. Bento e da farmácia – bem como o edifício 7 e o edifício D. Frei Caetano Brandão, onde funcionaram os serviços de pediatria e ortopedia.
O projecto de um hotel no antigo hospital de S. Marcos surge cinco meses depois de a Sociedade Hoteleira do Bom Jesus ter apresentado uma proposta de criação de um hotel de 4 estrelas, com 35 quartos e 14 apartamentos, associado a uma área comercial, a instalar no antigo cinema S. Geraldo, na mesma praça da cidade.
As propostas de novas unidades hoteleiras em Braga não devem ficar por aqui. Além do Vila Galé, outros grupos hoteleiros que operam em Portugal têm estado a estudar as possibilidades de investimento na cidade. Desde logo as empresas que já têm operações em Braga, como a Mercure, a Meliã ou a Axis, estão atentas ao mercado do centro histórico à procura de locais onde possam situar novas unidades. Esse é de resto um problema há muito identificado na cidade: a oferta hoteleira é boa nos limites da cidade, mas escassa nas zonas mais próximas das ruas e praças históricas, cada vez mais procuradas por turistas.
O presidente da Câmara de Braga, Ricardo Rio, antecipa que há “meia dúzia” de grupos de relevo que estão a estudar investimento em Braga. Em várias dessas situações estão envolvidos outros edifícios com valor patrimonial para os quais há ideias de investimentos da hotelaria. Em causa estão, por exemplo, o antigo tribunal, na praça do município (que está parcialmente destruído, sobrando quase só a fachada original) ou o edifício da rua do Castelo, assinado pelo arquitecto Marques da Silva, que pertence parcialmente à Universidade do Minho. A outra fracção desse prédio, que era propriedade da Infra-estruturas de Portugal, foi recentemente vendida a uma imobiliária local por 930 mil euros.
Face ao crescente apetite de investimentos hoteleiros pelo centro da cidade, Braga “devia estar a discutir os projectos”, defende Luís Tarroso Gomes, um dos cidadãos que tem liderado o movimento de oposição à proposta para o S. Geraldo. O centro histórico da cidade “precisa de uma estratégia coerente” e conversada entre os vários agentes, defende também. O apelo ao debate destas soluções – reforçado também pelo Bloco de Esquerda depois de conhecidas as intenções do grupo Vila Galé para o antigo S. Marcos – é partilhada pela associação de defesa do património ASPA. “A cidade tem que se preparar para responder a esta pressão do turismo”, afirma Alexandre Vale, dirigente daquele organismo. “Não são só os grandes hotéis, são os hostels, a oferta de pequena escala que já tem causado problemas no Porto e em Lisboa”.
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