O Neopop impôs-se, ao longo de uma década, como o principal festival português de música electrónica. Ancorado junto ao Forte de Santiago da Barra, em Viana do Castelo, manteve-se fiel a um som e a certos artistas, foi crescendo calmamente com cada edição, e hoje é uma referência — ou pelo menos o principal termo de comparação com os restantes festivais do género que foram surgindo em Portugal nos últimos tempos.
Desde meados dos anos zero que o antigo Antipop tem catalogado as movimentações techno/house internacionais e nacionais. Entre os nomes que passaram por lá contam-se referências como os Underground Resistance (além de Jeff Mills e Robert Hood a solo), Carl Cox, John Digweed, Carl Craig, Richie Hawtin, DJ Harvey, Dubfire (sozinho e com os Deep Dish), Michael Mayer, Ellen Allien, James Holden, Dixon ou Ben Klock, entre muitos outros. Uma lista que atravessa gerações e sensibilidades estéticas, mas mesmo assim não é representativa da total abrangência da programação.
Vários DJ e produtores já estiveram mais do que uma vez em Viana do Castelo, como é o caso de Richie Hawtin e John Digweed, dois repetentes desta edição. Isso acaba por ser mais um ponto a favor do festival, uma prova de que foi criada uma relação com figuras influentes da cena internacional. “Os artistas fazem pressão para voltar cá”, assume Gustavo Pereira, DJ (da dupla Freshkitos) e um dos organizadores do festival, a par de Raul Duro e Paulo Amaral. “Não repetimos nomes só por vontade própria. Há uma relação e eles pedem-nos para regressar. E o público também acaba por pedi-lo.”
O desafio é contrabalançar esses pesos pesados, que atraem público e vendem bilhetes, com alguns DJ menos conhecidos, mas igualmente merecedores de atenção. E a organização sabe isso melhor do que ninguém. “Esses nomes afirmados são um chamariz para apresentar coisas novas. Coisas mais frescas, que as pessoas não conhecem”, explica o programador. “É uma gestão que vamos fazendo.”
Abertura a outras nuances
O cartaz desta edição é um bom exemplo disso. Estão lá repetentes como os referidos Hawtin e Digweed, e ainda Magda, Maya Jane Coles, Nina Kraviz, Oscar Mulero (todos no dia 4), Carl Cox ou Pan-Pot (no dia 5). Porém também há estreantes como Donato Dozzy, prodigioso produtor de techno italiano e metade dos óptimos Voices From the Lake, confirmado para dia 5 de Agosto. John Talabot, o compositor catalão de house luminoso, Xosar, DJ/produtora americana de techno ocultista e imprevisível, e os Unforeseen Alliance, quarteto de improviso tecnóide que junta Antigone, Birth Of Frequency, Voiski e Zadig, com debute marcado para dia 4. Ou Ben UFO, um dos cabecilhas da editora Hessle Audio, que vai passar música no dia 6.
O mais surpreendente desta edição, no entanto, é a inclusão de artistas que poucos associariam automaticamente ao festival. Como Fatima Al Qadiri, criadora de electrónica futurista e rarefeita, e HHY & The Macumbas, projecto de xamanismo percussivo com estilhaços de jazz, dub e música electroacústica, que tocam no sábado, dia 6 de Agosto, a convite da Red Bull Music Academy. Ou os Sensible Soccers, banda portuguesa de electrónica com coração pop e propulsão krautrock, com um concerto marcada no dia 4. Passemos a palavra ao organizador: “Os Sensible Soccers são pessoas que já conheço há algum tempo, e eles próprios ficaram surpresos [com o convite]. Mas achamos que faz todo o sentido.”
E de facto faz sentido. Apesar de o house e o techno serem as coordenadas pelas quais o Neopop se guia desde o início, sempre houve alguma abertura a músicas com outras nuances. Isso pode ser mais aparente este ano, contudo não é uma novidade. E é algo que certamente se vai repetir em edições posteriores — a organização não esconde a ambição de eventualmente programar “duas ou três bandas míticas” que não encaixam bem no eixo techno/house. Mas o futuro logo se vê. Por agora, dancemos.