“Pokémon Go? Mas o que é essa porcaria?“, alvitrei enquanto um dito Pokémon, mais precisamente o Psyduck, se sentava comodamente ao meu ombro, pelo menos a contar pela fotografia prontamente tirada por quem, cheio de júbilo, me interpelava após a adição de mais um Pokémon à sua colecção.
“Pokémon Go?“, disse a minha mulher, para em seguida acrescentar: “Amanhã por esta altura já tens o jogo no teu telemóvel“, assim predizendo o que, 24 horas depois, haveria de se concretizar, o descarregar do Pokémon Go diante da inevitabilidade e da tentação, e seja o que Deus quiser!
De então para cá, desde o Pidgey, passando pelo Charmander, o Weedle, o Zubat ou o Drowzee, aos poucos e poucos comecei, também eu, nesta grande aventura que é percorrer o admirável mundo novo de todos os dias, mas desta feita com um verdadeiro, quem sabe o único, propósito: apanhar pokémons! Mesmo se os mesmos não existam, apesar de o ecrã e as fotografias, prontamente partilhadas, nos indicarem o contrário, até porque cá em casa há uma infestação de Pidgeys, desde a casa de banho até ao quarto, pelo que agora já nem andar à vontade posso com medo que me vejam. Nem eu, nem a minha mulher, a qual começa a fartar-se, rapidamente, de aturar este doido mais o ginásio de pokémons à porta de casa ou o pokéstop ao lado da estação de comboio, mesmo a jeito para nos fazer perder o mesmo na pressa das manhãs quando um Rattata está mesmo ali à mão de semear.
E não fosse o facto de entretanto ter começado a ler sobre este recente fenómeno e talvez estivesse agora longe de qualquer tipo de salvação: afinal, e graças ao uso ininterrupto do gêpêésse, quem quer saber já sabe onde trabalho (sim, já apanhei um Pidgey lá no escritório, e ai do chefe que saiba) e onde moro. Deste modo, e por causa de um jogo cuja única intenção é iludir-nos, ainda mais, na torrente dos dias, ofereci gratuitamente a minha privacidade a quem a quiser explorar. Ou, se tiver tido sorte, talvez ainda não. E sim, de caminho já fui verificar a conta bancária, não vá o Diabo tecê-las. Portanto, por conseguinte e por consequência, já desinstalei o Pokémon Go do meu telemóvel, mesmo a tempo de ir ver a minha sobrinha, a qual não tem culpa de ter um tio maluco, mas nem por isso irresponsável, ou não tivesse agora um bocadinho de fita adesiva no lugar da câmara do telefone.
O Pokémon Go é neste momento um fenómeno mundial. No espaço de duas semanas permitiu o acesso às contas e dados pessoais de milhões de utilizadores. E tu, já desinstalaste o teu?