Convenhamos que é a própria região que faz por se prostituir aos viajantes, orientando-se totalmente para o turismo, do qual a maioria é estrangeiro. Tanto assim é que se tornou praticamente impossível visitar Vilamoura ou Albufeira sem nos sentirmos deslocados no nosso próprio país.
Desde os letreiros de néon anunciando pequenos-almoços ingleses, "shots" e "strip-tease" até às Miss Piggys britânicas alcoolizadas em roupa cinco tamanhos abaixo, servindo de isco para os aspirantes a Zezé Camarinha deste mundo, tudo conspira para nos afastar do Algarve. Que nas últimas décadas se tem tornado, cada vez mais, a terra da fantasia onde o cidadão metropolitano, que vive na condição de remediado 11 meses por ano, pode utilizar o subsídio de férias para penetrar na esfera do novo-riquismo, passando do papel de servo para o de mestre.
Toda a oferta da região, desde as compras até ao marisco, passando pelas actividades o mais aculturadas possível, encaminha para que o Algarve seja de facto uma versão desenrascada de Los Angeles, na fantasia do dirigente português típico. Enquanto as atenções se concentram em captar o dinheiro dos visitantes, os residentes da zona, apesar do contributo para a facturação de capital estrangeiro, continuam a ser tratados e encarados como cidadãos de segunda no respeitante a todas as responsabilidades que o estado tem e deve ter para com os seus contribuintes.
Mesmo o resto do país estigmatiza o Algarve e os algarvios desse modo, porque, na verdade, além dos serviços e do consumo só parecem existir estradas e terreno para construir. E as pessoas que lá residem, parecem viver apenas com o intuito de servir os que visitam a zona.
Mas tudo bem, porque, para o mundo, o Algarve é como a preocupação com o peso, que faz uma aparição sazonal súbita e depois volta a submergir no esquecimento colectivo o resto do ano.
A menos que se torne a nossa zona petrolífera por excelência, aí sim, vamos todos ter saudades desse esquecimento.