Chegam ao consultório improvisado vestidos à civil, sem bata branca ou estetoscópio visível. Nos primeiros minutos da consulta, são apenas uma visita a ganhar confiança do paciente: fazem umas festinhas ao cão ou gato, deixam-nos aproximar e cheirar tudo. Sem pressas. Depois, improvisam uma marquesa — “numa mesa de jantar ou na bancada da cozinha” — , pedem uma luz adequada, e iniciam os exames, como num hospital mas “sem o stress associado” a esses espaços.
A start-up portuguesa Dr. Bigodes está prestes a completar um ano e Bruno Santos, o médico veterinário à frente do projecto, não podia estar mais satisfeito. Nestes primeiros meses, atenderam cerca de 500 animais e conseguiram 60 mil euros de facturação — mas a melhor parte, contou ao P3 numa entrevista telefónica, nem sequer é essa: “As pessoas dizem-me ‘dou graças a Deus por vocês existirem’. É o melhor elogio possível”, graceja.
A ideia surgiu num jantar, quando uma amiga perguntou a Bruno se poderia ir a casa dela fazer uma consulta com a felina de estimação. O médico veterinário e Rui Patriarca, amigo com formação em "marketing", começaram a magicar em conjunto: e se em vez das pessoas irem ao veterinário, fossem os veterinários a ir a casa das pessoas? Estudaram o mercado e perceberam que não havia um serviço desses em Portugal: “Havia clinicas e hospitais que vão a casa, mas não um serviço exclusivamente centrado nisso.”
Bruno Santos estava prestes a terminar um contrato de trabalho numa clínica em Lisboa e decidiu arriscar. Com o amigo, abriu um negócio de cuidados veterinários ao domicílio para a grande Lisboa e grande Porto, que funciona todos os dias entre as 10h00 e as 24h00. Os preços, garante, estão na média dos praticados numa clínica e não variam consoante o dia e hora de atendimento. Para utilizar o serviço, basta marcar o serviço online
Bruno trocou Portugal por Espanha em 2006 para completar a licenciatura em Medicina Veterinária, em Cáceres. Em Lisboa fez Erasmus, “o processo contrário à maioria das pessoas”, e iniciou a carreira profissional no Alentejo, de onde é natural. Primeiro na área das aves e aos poucos a entrar no mundo dos pequenos animais, como sempre sonhou.
O Dr. Bigodes, que conta com um veterinário no Porto e três em Lisboa, dedica-se sobretudo a cães e a gatos. Para animais exóticos fazem apenas programas de vacinação e profilaxia. Além dos actos médico veterinários mais gerais — como análises, vacinação, identificação electrónica, tosquias, banhos, pediatria e geriatria —, o projecto disponibiliza consultas de dermatologia, nutrição, comportamento ou até acupunctura para animais. Nos casos em que é preciso algum exame, cirurgia ou tratamento complementar, a start-up tem protocolos com clínicas e hospitais para dar reposta.