Brexit: um alfinete é o símbolo contra o racismo no Reino Unido

Pode o alfinete de ama tornar-se um símbolo anti-racismo no Reino Unido? A ideia partiu de uma utilizadora do Twitter e já é uma tendência — online e não só. Usar um alfinete destes na roupa é, agora, sinal de solidariedade para com imigrantes no país do Brexit

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A campanha nasceu no Twitter em jeito de sugestão, na noite de 26 de Junho, e em quatro dias passou da Internet para as ruas do Reino Unido. Allison — ou @cheeahs naquela rede social, apelido desconhecido — desafiou os britânicos a utilizarem um simples alfinete de ama (“safety pin”, em inglês), vazio, na roupa contra o racismo e a xenofobia.

Um alfinete destes na lapela pode ser, diz Allison, um símbolo de solidariedade para com estrangeiros — e não só. “Uma mulher de ‘hijab’ entra num autocarro e encontra um assento vazio. Ela vê que há uma pessoa a usar um alfinete de ama ao lado e sabe que se pode sentar ali sem ser incomodada”, explicou a norte-americana de 30 anos, há seis no Reino Unido, à CNN. O “safety pin”, continua, é uma “maneira silenciosa de mostrar: está tudo bem, estou contigo”.

Os relatórios de segurança do Reino Unido, divulgados após a decisão dos britânicos de abandonarem a União Europeia (UE) na sequência do referendo de 23 de Junho, não deixam dúvidas: os crimes de ódio reportados às autoridades aumentaram 57 por cento em poucos dias. À discussão sobre o Brexit, à qual o resultado do referendo não pôs fim, juntaram-se os relatos de ataques racistas contra imigrantes no Reino Unido, alguns dos quais, precisamente, em transportes públicos.

Para manifestar solidariedade pela luta contra o racismo e xenofobia, e seguindo o desafio de Allison, apenas é preciso colocar um alfinete, sem mais nada, na roupa. “Se o colocares estás a prometer apoiar as pessoas e intervir e denunciar caso testemunhes actos de abuso racial ou xenófobo”, esclareceu. A campanha começou no Reino Unido mas são já milhares as imagens de pessoas de alfinete ao peito em todo o mundo — a “hashtag” #safetypin, no Twitter, confirma-o. Em 2014, na Austrália, um movimento social semelhante, também com uma “hashtag” (#illridewithyou), surgiu como resposta a um aumento de islamofobia que se seguiu a uma situação de sequestro em Sidney.

“É mais do que uma palmadinha nas costas”, continua a norte-americana, respondendo assim às críticas de paternalismo que a campanha suscitou. “Creio que a estas pessoas falta o sentimento de empatia”, responde. “É paternalista de apenas usares o alfinete e achares que já fizeste a tua parte.”

Os alfinetes de lapela como forma de denúncia ou de solidariedade com vítimas de racismo e xenofobia tinham sido já utilizados em outras ocasiões. A mais célebre delas teve lugar na década de oitenta. Um “pin” com a inscrição “Touche pas à mon pote” transformou-se no “slogan” e no logótipo do movimento SOS Racismo francês, num contexto de perseguição a cidadãos estrangeiros, particularmente de origem magrebina.

Foi aquele movimento que deu origem ao surgimento em Portugal de um movimento homónimo na década seguinte, na sequência de uma vaga de agressões de grupos de “skinheads”, no Porto e em Lisboa, a cidadãos de cor negra, e da ilegalização do Movimento de Acção Nacional, um grupo de extrema-direita racialista nascido em 1986 e ilegalizado e, consequentemente, extinto em 1992 pelo Tribunal Constitucional.

O alfinete de ama foi, ainda, um dos principais ícones do punk britânico na década de 70, quando o designer Jamie Reid, influenciado pelos situacionistas, um movimento artístico e político criado por um grupo dirigido por Guy Debord, o acrescentou a uma imagem da rainha Isabel II. Concretamente, Reid aproveitou a fotografia de Cecil Beaton, a propósito da comemoração do jubileu da rainha, para colocar suásticas nos seus olhos e um alfinete de ama a atravessar-lhe o nariz, uma das variações do seu trabalho gráfico para o single “God save the queen”, lançado em 1977, no auge do furacão dos Sex Pistols.

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