“Balada de um Batra´quio”: mais perguntas do que respostas

Leonor Teles apresenta um tema que, direccionado para a actualidade, alerta para pequenos gestos não inclusivos

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Vi a curta "Balada de um Batráquio", de Leonor Teles, no Cinema Batalha, no âmbito do Desobedoc 2016. No final, percebi, por um lado, que estava perante uma pequena grande obra-prima com um conteúdo e forma surpreendentes e, por outro, claro, que a comunidade cigana prefere não ter sapos por perto.

Leonor Teles apresenta um tema que, direccionado para a actualidade, alerta para pequenos gestos não inclusivos. A curta representa o caso de comerciantes que, por não quererem servir a comunidade cigana, colocam na montra e à entrada dos seus estabelecimentos figuras em louça representativas de sapos. Nela, associado a estes, aparecem, ainda, sapos reais.

Poderia ser que o alerta desta curta ampliasse o campo da inclusão. Mas não. Por um lado, depois desta, multiplica-se o número de lojas em várias zonas urbanas com esses elementos visíveis; por outro, há quem organize e divulgue boicotes aos comerciantes que fazem isso.

Isto é um assunto sério. Verifica-se um momento de acção-reacção, enquanto ninguém parece compreender a possibilidade de parar, distanciar e, depois, reflectir.

Tente-se distanciar por um instante do caso. Na prática, fala-se de alguém que procura um elemento com um efeito num destinatário. Por aqui se verifica a premeditação de uma intenção. Ou seja, há um causa-efeito que, neste caso, não contribui para uma sociedade inclusiva. Mas reagir com boicote a estes comerciantes também não contribui. Coloca os que boicotam na posição inicial dos comerciantes falados e estes últimos na posição inicial da comunidade cigana. (Qual era o objectivo inicial?) A única coisa que acontece é baralharem-se as peças do tabuleiro, não se resolvendo o jogo. Neste caso, todos os intervenientes parecem ser desintegrados por diferentes motivos. Logo, estar-se-á a replicar o comportamento premonitório.

Sugerem-se, assim, mais perguntas do que respostas.

Podendo aproveitar este caso para contribuir para uma sociedade inclusiva, com estes comportamentos contribui-se de uma maneira útil? E são estas as maneiras mais interessantes de o fazer? Para os integrados, desintegrar resolve a integração? Em vez de um boicote não inclusivo, é possível explicar a quem associa comportamentos não inclusivos a grupos que integrados ou desintegrados se encontram todos os dias em todos os sítios?

Este não é caso para uma revolução imponderada. Muitas conversas sensibilizadoras, espaçadas no tempo, num tom moderado, tornam pedagógico qualquer assunto de interesse público. Leva o tempo certo para que se curem as feridas de experiências pontuais, que nada têm que ver com os objectivos pretendidos para a sociedade. Não é caso para olhares apaixonados.

Percebe-se a importância de parar por um momento?

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