“Bruxelas mais do que nunca precisa de nós”

Temos que voltar. Bruxelas é a nossa cidade. São vinte anos de alegrias, de destinos cruzados, de céus cinzentos, de saudades, de sonho europeu. Bruxelas mais do que nunca precisa de nós. Podíamos ter sido nós. Não, corrijo, fomos nós!

Foto
Emmanuel Dunand / AFP Photo

Passámos por lá domingo à noite. Queixámo-nos do atraso previsto de duas horas. Depois pensámos que não fazia mal. No aeroporto de Bruxelas há bons restaurantes, lojas de chocolates; podíamos sentar-nos a ler um bom livro.

Hoje de manhã acordámos e vimos o nosso aeroporto destruído; olha, estivemos ali especados a ver o ecrã das partidas; olha, estivemos parados ao pé daquela estátua que resistiu à bomba. Mas a devastação na estação de metro de Maalbeek ainda custa mais a digerir. Hora de ponta. Quantos colegas apanhados na explosão? O meu marido trabalha no prédio logo em frente, assim como milhares de outros funcionários europeus.

Não há dúvida possível quanto ao significado deste gesto: é a Bruxelas europeia, cosmopolita, que é o alvo do atentado. Telefono imediatamente à minha secretária sueca para saber onde está toda a minha equipa; contar cabeças; "everyone is safe? How many inside and outside the office?" Ninguém pode sair. Toda a gente afastada das janelas. O marido duma colega polaca estava no metro mas safou-se.

Difícil mesmo é sentarmo-nos à mesa da cozinha, numa Barcarena inundada de sol, e termos que explicar à nossa filha que tem quase onze anos o que aconteceu na nossa cidade e ouvi-la dizer: eu não estou surpreendida, eu sabia que mais dia menos dia acontecia, um atentado terrorista em Bruxelas. Depois vem o medo: não quero voltar! A seguir o choque: quero mimos! Abraço em família. Precisamos todos de um abraço.

Mas temos que voltar. Bruxelas é a nossa cidade. São vinte anos de alegrias, de destinos cruzados, de céus cinzentos, de saudades, de sonho europeu. Bruxelas mais do que nunca precisa de nós. Podíamos ter sido nós. Não, corrijo, fomos nós!

Sugerir correcção
Comentar